O que você faria se de repente fosse tomado de
assalto por palavras, como numa torrente de rio bravio? Você as cuspiria no
divã, sussurraria no confessionário ou sairia por aí deitando palavrório na
tela de um computador ou de viva voz numa praça pública, posto que somos mansos
seres humanos psicóticos latentes prontos para reagir a esse acometimento
vernacular?
Salvo algumas incontingências poéticas que me
fazem ficar “apertado”, numa urgência de verter versos abundantes, prefiro me
conter mais ( não sei se isso vem com o decorrer dos anos) num processo breve
de fermentação. É como se eu fosse enfiando as palavras num funil e o que
saísse na extremidade mais estreita fosse o sumo concentrado do que aquele
caudal inicial poderia querer dizer, expressar.
Não chega a ser um processo de doma, como quem
doma um leão impetuoso e feroz. Eu diria que é mais uma quieta e interna
colheita onde só colho o que pode ser parte relevante do quebra-cabeça que aos
poucos vai se configurando na mente, esboço de ideia, ritmo, sentido e som.
Longe de mim propor isso como certo. Não sou
adepto de cartilhas. Sempre detestei cadernos de caligrafia. Poesia é um
território amplo, de muitos matizes, de geografia muito variada, portanto não
existe fórmula para um belo poema nascer e ser. Falo apenas por mim e compartilho
com vocês, meus pacientíssimos leitores.
No meu fazer, tenho predileção pelo “menos é mais”,
pelo enxuto, o concentrado. Não sei, mas cismo que disso costuma resultar mais
intensidade, força e expressividade.
Mas, poetas e futuros poetas, não me levem tão a
sério. Se tiverem de ser incontidos, sejam! Surtem poeticamente, subam na mesa.
O que importa é que a poesia toque, provoque, perturbe e enterneça.
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