Importante

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sexta-feira, 30 de novembro de 2018

De Mozart à muzak


Tanto já se falou sobre o papel e a importância da música na vida das pessoas, que temo parecer redundante e clichê. Mas teimosamente vou correr este risco.

Música é feito aquele amigo especial e singular que a gente preza muito e instintivamente recorre a ele, seja em momentos de júbilo ou o oposto disso, sem nem cogitar de que poderemos importuná-lo com a eventual chatice das nossas lamentações ou euforia.

Não podemos ignorar que a música tem algo de – digamos - terapêutico. Na verdade a gama de experiências com a música vai desde o êxtase místico dos monges até a excitação carnal dos mundanos, passando pela emoção das canções de amor e sua faceta mais lúdica que não se destina só a crianças.

Terapêutica, sim, por ter o dom de alterar estados mentais e de espírito. O fato é que tem algo de fenomenal nisso. A gente ouve música de que gosta muito e pronto, já nos pegamos refeitos, restabelecidos. É como dar restart no computador.  Com música de qualquer vertente estética, de acordo com os gostos pessoais.

A música e seus músicos encantam mesmo se precisam derrubar muros linguísticos e culturais. Japoneses são loucos por música brasileira, mesmo sem entender uma palavra sequer. Na música instrumental nem se fala, existe um monte de grupos de chorinho lá, que quando a gente escuta, jura que é músico brasileiro tocando.

Música é romance permanente, é companhia imprescindível, mesmo pros dentistas e ascensoristas que ouvem a chamada “muzak” (música de elevador). Inclusos os tenores e sopranos de chuveiro, naquela acústica excelente.

Que eu me lembre, até hoje, só conheci uma pessoa que dizia não gostar de música. Prosseguem minhas dúvidas sobre se ela foi sincera quanto a isso.

Cantochão



Rendo-me a ti, fluidez
Não me destrói teu poder
me dilata o prazer
que leva e traz lucidez

Amo-te, lírica ou densa
Velhas cantigas de roda
Teus lundus fora de moda
És concretude e presença

Índio dançando Ravel
Callas cantando Gardel
Tímpanos do coração

Música, és musa de mim
Nunca ouses ter um fim
Sou teu monge em cantochão


sábado, 24 de novembro de 2018

Memorabilis





A vida só tem sentido se é memorável...

                               Memorando

Sem memória, sem história, somos escória, viver, tarefa inglória sem a glória do memorável inimitável que nos faz humanos, maus e bons anos meses dias, penumbra e poesia, entropia e utopia, sem os ódios das escuridões nem os arroubos das paixões e suas sofridas lições, sem história sem lembranças é como dança sem música, é folia não lúdica, é viver por viver sem de fato ser, é contrato sem cláusula, existência sem causa, é ficar no modo pausa, sem norte à própria sorte sem referência, fazer reverência à morte, sem recheio, com receio de abraçar o nada dessa não estrada que é a desmemória, livro só com a última página impressa feito pressa de ir, cama de faquir, viver só ser porvir, só ser, ser só, desmemória é pó do antes, semblantes irreconhecidos, sem língua só ruídos, tempos perdidos, castelos ruídos sem restauração, memória nos dá sentido até mesmo pro pressentido, pro agora de mil pletoras e o que virá depois de já.

                                                         
 


sábado, 17 de novembro de 2018

Amor



Nestes tempos de ódio, é oportuno falar de amor. Tema recorrente, redundante, mas nunca extemporâneo. Fruto da retórica ou de indomável impetuosidade, que seja bússola, estenda pontes, que aponte pra utopia (e não pra entropia) de que só a beleza e o amor vai nos salvar. Então salve o amor, pra que ele nos salve. Juntos e com arte, seremos mais que a soma das partes.


                                                                               

sexta-feira, 9 de novembro de 2018

sábado, 3 de novembro de 2018

Transformações



Nos domínios do poético, território da mais rasgada subjetividade, metáforas, antíteses, paradoxos e tantas outras figuras de linguagem abastecem de imagens a mente de quem escreve e de quem lê.

Deste modo a metade superior de um copo meio cheio de água, pode não ser vista como vazia e sim cheia de ar, ou de mágoa, de Deus, de placidez, enfim, do que a imaginação propuser e instigar.

O preto e branco, a ausência de cor, pode representar frieza, solidão, mas também pode sugerir reflexão ou mesmo concretude. Já uma profusão de cores exuberante tanto pode propor tensão como alegria e dependendo do contexto, até tragédia e morte.

Subjetividade e a carpintaria poética de um cenário e contexto levam a esses resultados contrastantes. Em Vênus, soneto que depois virou a letra de um blues (!), o foco está na transição do preto e branco para a cor, dando relevo simbólico ao advento do amor e sua consequente transcendência, em sua reversão ao branco, síntese da totalidade pura e ínteira.


Vênus

Tu arco-íris e eu a inundar-me
Em luminosas caleidoscopias
Vivo a trocar as noites pelos dias
Roubas-me o sono, acionas meus alarmes

Em preto-e-branco construí meu mundo
De muitos cinzas pude colori-lo
Agora vens, fractal Vênus de Milo
Trazer-me cor e em cor então me afundo

Cada emoção revela o seu matiz
E pouco a pouco o pulso volta à vida
impulsionando a máquina motriz

Sorvo-te seiva multicolorida
E emano luz que jorra em chafariz
Sou prisma a dar à luz cor revertida