Tanto já se
falou sobre o papel e a importância da música na vida das pessoas, que temo
parecer redundante e clichê. Mas teimosamente vou correr este risco.
Música é
feito aquele amigo especial e singular que a gente preza muito e instintivamente
recorre a ele, seja em momentos de júbilo ou o oposto disso, sem nem cogitar de
que poderemos importuná-lo com a eventual chatice das nossas lamentações ou
euforia.
Não podemos
ignorar que a música tem algo de – digamos - terapêutico. Na verdade a gama de
experiências com a música vai desde o êxtase místico dos monges até a excitação
carnal dos mundanos, passando pela emoção das canções de amor e sua faceta mais
lúdica que não se destina só a crianças.
Terapêutica,
sim, por ter o dom de alterar estados mentais e de espírito. O fato é que tem
algo de fenomenal nisso. A gente ouve música de que gosta muito e pronto, já
nos pegamos refeitos, restabelecidos. É como dar restart no computador. Com música de qualquer vertente estética, de
acordo com os gostos pessoais.
A música e
seus músicos encantam mesmo se precisam derrubar muros linguísticos e
culturais. Japoneses são loucos por música brasileira, mesmo sem entender uma
palavra sequer. Na música instrumental nem se fala, existe um monte de grupos
de chorinho lá, que quando a gente escuta, jura que é músico brasileiro
tocando.
Música é
romance permanente, é companhia imprescindível, mesmo pros dentistas e
ascensoristas que ouvem a chamada “muzak” (música de elevador). Inclusos os
tenores e sopranos de chuveiro, naquela acústica excelente.
Que eu me
lembre, até hoje, só conheci uma pessoa que dizia não gostar de música.
Prosseguem minhas dúvidas sobre se ela foi sincera quanto a isso.
Cantochão
Rendo-me a ti, fluidez
Não me destrói teu poder
Só me dilata o prazer
que leva e traz lucidez
Amo-te, lírica ou densa
Velhas cantigas de roda
Teus lundus fora de moda
És concretude e presença
Índio dançando Ravel
Callas cantando Gardel
Tímpanos do coração
Música, és musa de mim
Nunca ouses ter um fim
Sou teu monge em cantochão
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