Importante
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sexta-feira, 8 de março de 2019
sábado, 23 de fevereiro de 2019
Escrever descrever inscrever
Escrever,
podem crer, é catarse, conformar-se, não há porque não. Escrever: eis crer e
ver, pode ser com os pés no chão, bordando a ilusão, dizendo palavrão, um não
que é sim, um sim que é não; ou não. Escrevo nas filas, no balcão, mentalmente,
sobre um incidente real ou da imaginação, fazendo elo com o leitor, buscando um
belo poema de amor. Escrever é confissão, invenção, é trazer à tona toda essa
zona que nos confunde e nos infunde a compulsão do dizer, dizer por escrito,
pra que o só audito não se perca, rompa a cerca da consciência, afirmar sua
presença que se crava pela palavra, na sua força gráfica, de signo, o seu dom,
benigno.
Vide bula
Palavra é ritmo e dança
Brinquedo de desmontar
Palavra é de som e ar
Aguda ponta de lança
Contida, exaltada. chula
Chicote ou doce canção
Carícia ou demolição
Na dúvida vide bula
É mapa, é lei, estrutura
É luz numa mina escura
Ou pura contradição
Mentira mais verdadeira
Verdade mais traiçoeira
Não diz sim e sim diz não
sábado, 16 de fevereiro de 2019
Sem arremedos
O medo, esse famigerado. Pior que segredo
congelado. Pior que bruma, que não te deixa ver porranenhuma. Medo é
amedrontador, dor que não dói mas rói o ser, entorta o talher, faz o travesso
virar do avesso, vira bicho de sete cabeças de quartas a terças Medo é abrupto
ou em câmera lenta é corrupto e se deixa
subornar ao luar. Medo de perder o controle, o da TV e o de si e da vida. Medo
é vidro em cacos com pés descalços, medo é percalço a um metro da meta. É
sombra, escombro silencioso, é sonhar com o Bozo e acordar em prantos medo do
por enquanto virar passado, porão mal assombrado. Medo é um coração dilacerado
pelo desencontro, de nunca estar pronto pra começar recomeçar findar receber
dar. Medo é órbita solar que gira gira e não sai do lugar.
sábado, 9 de fevereiro de 2019
Arco-ires
sábado, 26 de janeiro de 2019
sábado, 19 de janeiro de 2019
Cheque em branco
Cada
amanhecer é uma folha em branco e sua virgindade. Temos certa liberdade para
imprimir nela o mesmo de antes ou o novo. Cabe o garrancho, a caligrafia, cabe
ensaio e poesia. A palavra sempre cabe. Porque ela escorre, se infiltra,
córrego ou rio caudaloso, placidez ou correnteza. As palavras estão ocultas
pelo ofuscamento da claridade matutina. Prefiro a inquietação convertida em
inquietude da perseguição ao sentido que se expressa pelo verbo. Mas o verbo
neologístico, de preferência. Prefiro aos
silêncios, desses que nada acrescentam. Faço picada, abro a facão, dou forma à
trilha, ainda que não vá dar em nada, lugar algum. A folha em branco que reluz
manhã não é pra ser despejo, foz do que se originou do pensado e prévio. Que a
folha sem mácula seja insolente e nos provoque, nos esbofeteie e chame para o duelo, nos tire da
zona de conforto tantas vezes apelidada de inspiração, que nos ponha pirados
por desinspirados e que nos resgate da mesmice, da bula e receita, do não ruim
que não é bom, do que só adorna e não entorna, fogo que só amorna. Novo dia,
renovada poesia. Página em branco que exala frescor transmutável em amor.
Útero
Cúmplice, vívida página
Tácita, íntima, prática
Vítima, cínica tática
Pálida, anímica, mágica
Trêmula, tímida, próxima
Ínfima lâmina, dádiva
Física, lírica fábrica
Quântica, rústica, sólida
Lúcida lâmpada anárquica
Sôfrego, cravo-te símbolos
Risco-te, tornas-te gráfica
Rútila pétala, vínculo
Cálida, incitas-me ávida
Página, faço-te grávida
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