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sábado, 19 de janeiro de 2019

Cheque em branco



Cada amanhecer é uma folha em branco e sua virgindade. Temos certa liberdade para imprimir nela o mesmo de antes ou o novo. Cabe o garrancho, a caligrafia, cabe ensaio e poesia. A palavra sempre cabe. Porque ela escorre, se infiltra, córrego ou rio caudaloso, placidez ou correnteza. As palavras estão ocultas pelo ofuscamento da claridade matutina. Prefiro a inquietação convertida em inquietude da perseguição ao sentido que se expressa pelo verbo. Mas o verbo neologístico, de preferência.  Prefiro aos silêncios, desses que nada acrescentam. Faço picada, abro a facão, dou forma à trilha, ainda que não vá dar em nada, lugar algum. A folha em branco que reluz manhã não é pra ser despejo, foz do que se originou do pensado e prévio. Que a folha sem mácula seja insolente e nos provoque, nos  esbofeteie e chame para o duelo, nos tire da zona de conforto tantas vezes apelidada de inspiração, que nos ponha pirados por desinspirados e que nos resgate da mesmice, da bula e receita, do não ruim que não é bom, do que só adorna e não entorna, fogo que só amorna. Novo dia, renovada poesia. Página em branco que exala frescor transmutável em amor.


Útero


Cúmplice, vívida página
Tácita, íntima, prática
Vítima, cínica tática
Pálida, anímica, mágica

Trêmula, tímida, próxima
Ínfima lâmina, dádiva
Física, lírica fábrica
Quântica, rústica, sólida

Lúcida lâmpada anárquica
Sôfrego, cravo-te símbolos
Risco-te, tornas-te gráfica

Rútila pétala, vínculo
Cálida, incitas-me ávida
Página, faço-te grávida