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domingo, 3 de abril de 2016

Desconstruindo



Numa continuação informal, recorro a outra possibilidade do poema contar uma história. Dessa vez narrado na primeira pessoa. E propondo uma transgressão, uma metáfora com ares metafísicos, uma subversão do tempo cronológico que só anda pra frente.

Costuma-se dizer que a única certeza que temos na vida é a morte. Acrescento outra certeza: a de que a arte pode instaurar outras realidades, outros âmbitos, menos cartesianos, que abram possibilidades de pensarmos a vida de formas menos conformistas e previsíveis, onde o imaginário e o mágico tenham lugar de importância, tanto quanto as questões do cotidiano.

Imaginem se a vida fosse o reverso de si mesma, ou seja, do que ela é: nascimento, crescimento, decadência e morte. Charlie Chaplin tem um pequeno texto onde ele imagina essa reversão e, bem-humorado, mostra o fim desse ciclo num grande orgasmo, que é imediatamente anterior à concepção. Como seria de se esperar em Chaplin, é bem cinematográfico, só que um filme passado de trás pra frente.

Minha versão, que na verdade fiz antes de conhecer essa narrativa do Chaplin, foi poetizando em forma de um soneto:

Desmorte

Não sei se fui um morto adotado
Se exumado só por distração
Ressurreição de risco calculado
ou planejada enfim a exumação?

Cortejo em luto rumo ao hospital
onde mel mal custou a ser curado
E em bom estado que era terminal
deram-me alta e em casa era esperado

Fui infeliz na tal maturidade
A mocidade trouxe mais alento
O bom momento é agora, a tenra idade

Quente me acolhe o útero sedento
O lento adeus é só felicidade
Morre a tristeza em meu desnascimento





                   Assistam ao video baseado no meu livro: http://www.youtube.com/watch?v=RwY7bTSfqpc