Na
vida, como na poesia, existem regras, padrões, modelos. Mas a poesia, como a
vida, possibilita certas quebras desses esquemas.
Este
texto não pretende dar receitas nem ser algum manual de escrita. Vejam só como
um compartilhamento de algumas ideias que tenho e procuro por em prática quando
escrevo poesia.
Pra
começo de conversa, a não ser que vocês queiram reescrever A Odisseia ou Os
Lusíadas, vamos logo cuidar da chamada concisão. Sempre que possível ser
econômicos. Já afirmei isso no blog mais de uma vez e vou repetir: poesia é a
linguagem da supressão, onde quase sempre menos é mais. Se você puder trocar “
A chuva bate na vidraça da janela e escorre como uma cachoeira incessante” por “chove na vidraça” ou “a vidraça chove”,
prefira assim! Isso é um dos elementos que mais distingue a poesia da prosa:
tentar dizer o máximo com o mínimo.
Temos
aí duas questões entrelaçadas: versos muito extensos e poemas muitos extensos.
Às vezes são uma coisa só e é aí que o “perigo” ronda, porque estaremos na
fronteira entre duas formas quase sempre sem nem ter essa intenção,
Visualmente
o que diferencia prosa de poesia? A
verticalidade do texto num poema versus a horizontalidade num conto ou novela.
Porque em geral os versos não são longos a ponto de horizontalizar um poema. A
exceção são os haicais que por terem 3 versos tendem à horizontalidade.
A
poesia moderna instaurou os versos livres e isso quer dizer não se prender a
métrica, rima, estrofe ou número de versos. Mas nada impede que escrevamos
poemas híbridos, versos livres com algumas rimas ou com estrofes com um número
regular de versos.
Digo
isso pra entrar no terreno da rima. Tem poeta que acha que tem de rimar tudo
com tudo sempre. É como se isso autenticasse um poema.
“O
percevejo
pousou
no realejo
com
desejo
de um
beijo
benfazejo”
Rima
assim está mais pra eco.
Outra
questão é a banalização. Poesia, como já disse, além de uma linguagem de
concisão, é também uma forma única de dizer as coisas, de divagar, de exaltar,
de refletir, de narrar. A poesia não se parece com nenhuma outra forma de
expressão escrita, pois então é o território do não banal. É preciso frisar
aqui a grande diferença entre simples e banal. Existem inúmeros poemas simples
e belos. Já o banal esvazia a graça intrínseca da poesia.
Sonoridade
e ritmo. Bato sempre nessas teclas. São dois elementos que também contribuem e
muito pra tornar um poema singular e contribuir pra singularidade da linguagem
poética. A poesia tem um forte parentesco com a música e sendo assim temos de
buscar a melhor sonoridade de palavras e versos, agregando musicalidade. O
mesmo papel faz o ritmo, Notamos muito essa expressividade quando lemos poesia
em voz alta.
Procurem
privilegiar as palavras tônicas: proparoxítonas e oxítonas. São mais fortes.
Evitem versos com muitos fonemas nasais, eles soam fanhosos como alguém
gripado,
Outro
detalhe a destacar e que acho merecedor da atenção: o título. Não tentem
explicar o poema com o título. Não sejam didáticos nisso. Não antecipem o
desfecho do poema no título. Pode tirar a graça. Não se afobe na escolha de um
título. Em geral os melhores títulos não aparecem no corpo do poema.
Bem,
já me excedi com o tema que me empolga. Pode ser que isso motive em breve uma
continuação. E mãos à obra, poetas, aprendizes e poetas em potencial. Estamos
sempre aprendendo enquanto lemos e escrevemos poesia.
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