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quinta-feira, 7 de abril de 2016

Corte & Costura

Na vida, como na poesia, existem regras, padrões, modelos. Mas a poesia, como a vida, possibilita certas quebras desses esquemas.

Este texto não pretende dar receitas nem ser algum manual de escrita. Vejam só como um compartilhamento de algumas ideias que tenho e procuro por em prática quando escrevo poesia.

Pra começo de conversa, a não ser que vocês queiram reescrever A Odisseia ou Os Lusíadas, vamos logo cuidar da chamada concisão. Sempre que possível ser econômicos. Já afirmei isso no blog mais de uma vez e vou repetir: poesia é a linguagem da supressão, onde quase sempre menos é mais. Se você puder trocar “ A chuva bate na vidraça da janela e escorre como uma cachoeira incessante” por  “chove na vidraça” ou “a vidraça chove”, prefira assim! Isso é um dos elementos que mais distingue a poesia da prosa: tentar dizer o máximo com o mínimo.

Temos aí duas questões entrelaçadas: versos muito extensos e poemas muitos extensos. Às vezes são uma coisa só e é aí que o “perigo” ronda, porque estaremos na fronteira entre duas formas quase sempre sem nem ter essa intenção,

Visualmente o que diferencia prosa de poesia?  A verticalidade do texto num poema versus a horizontalidade num conto ou novela. Porque em geral os versos não são longos a ponto de horizontalizar um poema. A exceção são os haicais que por terem 3 versos tendem à horizontalidade.

A poesia moderna instaurou os versos livres e isso quer dizer não se prender a métrica, rima, estrofe ou número de versos. Mas nada impede que escrevamos poemas híbridos, versos livres com algumas rimas ou com estrofes com um número regular de versos.

Digo isso pra entrar no terreno da rima. Tem poeta que acha que tem de rimar tudo com tudo sempre. É como se isso autenticasse um poema.
“O percevejo
pousou no realejo
com desejo
de um beijo
benfazejo”
Rima assim está mais pra eco.

Outra questão é a banalização. Poesia, como já disse, além de uma linguagem de concisão, é também uma forma única de dizer as coisas, de divagar, de exaltar, de refletir, de narrar. A poesia não se parece com nenhuma outra forma de expressão escrita, pois então é o território do não banal. É preciso frisar aqui a grande diferença entre simples e banal. Existem inúmeros poemas simples e belos. Já o banal esvazia a graça intrínseca da poesia.

Sonoridade e ritmo. Bato sempre nessas teclas. São dois elementos que também contribuem e muito pra tornar um poema singular e contribuir pra singularidade da linguagem poética. A poesia tem um forte parentesco com a música e sendo assim temos de buscar a melhor sonoridade de palavras e versos, agregando musicalidade. O mesmo papel faz o ritmo, Notamos muito essa expressividade quando lemos poesia em voz alta.

Procurem privilegiar as palavras tônicas: proparoxítonas e oxítonas. São mais fortes. Evitem versos com muitos fonemas nasais, eles soam fanhosos como alguém gripado,

Outro detalhe a destacar e que acho merecedor da atenção: o título. Não tentem explicar o poema com o título. Não sejam didáticos nisso. Não antecipem o desfecho do poema no título. Pode tirar a graça. Não se afobe na escolha de um título. Em geral os melhores títulos não aparecem no corpo do poema.

Bem, já me excedi com o tema que me empolga. Pode ser que isso motive em breve uma continuação. E mãos à obra, poetas, aprendizes e poetas em potencial. Estamos sempre aprendendo enquanto lemos e escrevemos poesia.





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