O livro sobre o nada
"É mais fácil fazer da tolice um regalo do que da sensatez.Tudo que não invento é falso.Há muitas maneiras sérias de não dizer nada, mas só a poesia é verdadeira.Tem mais presença em mim o que me falta."
Manoel de Barros
Há quem
diga que histórias de poeta se assemelham às histórias de pescadores. As dos
poetas contém uns exageros aqui, umas licenças poéticas ali e quando em vez uns
delírios acolá, que não pretendem induzir ninguém a acreditar em diversos dos
seus versos.
Mas a
pequena – e singela – história que vou contar pra vocês não tem nenhum realismo
fantástico e é apenas real.
Uma
amiga minha, nascida e criada no Pantanal Matogrossense, pessoa que tem muito
apreço literalmente às suas raízes, quando soube que eu, um grande admirador,
tinha escrito um poema pro Manoel de Barros, na época ainda vivo, se
prontificou a servir de ponte de comunicação – as famílias se conhecem há décadas
e sugeriu que ela enviasse o poema por
email, para a filha dele, que por sinal é a ilustradora dos livros dele, um
trabalho de grande delicadeza. É claro que aceitei a sugestão e minha amiga
enviou o email.
Passaram-se
vários dias e minha amiga me encaminhou a resposta da filha de Manoel, onde ela
dizia o seguinte: Desculpem a demora, mas meu pai anda debilitado pela idade e
alguns probleminhas de saúde, então para facilitar li o poema do seu amigo pra
ele, que ouviu em silêncio e expressão atenta e no final abriu um sorriso...
Minha
emoção não se deveu a vaidade e ego, a orgulho. Minha emoção não tem um nome.
Tocar o coração de um homem que tocou tantos e tantos com versos de requintada
simplicidade, com seu jeito tão singular de versejar é uma coisa mágica e nada
mais foi que minha gratidão por tanto encantamento que recebi. O poeta sorriu e isso é poesia e basta.
Cerca
de um ano depois ele nos deixou e a maior parte de mim se alegrou por
testemunhar a vida especial que ele teve e os muitos presentes que nos
ofereceu.
E o humilde
poeta que lhes fala também sorriu.
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