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sábado, 7 de maio de 2016

Invenções e confissões

Nosso muito querido e inspirado Manoel de Barros disse: “o que não invento é mentira! Fernando Pessoa, outro monstro, num trecho de um famoso poema seu, diz: “Q poeta é um fingidor / Finge tão completamente / que chega a fingir que é dor/ a dor que deveras sente”.

Nunca entendi plenamente porque recai sobre os poetas e a poesia como linguagem, o compromisso com o realismo. Notem que este tipo de cobrança incide muito menos sobre outras formas de arte, como o cinema, o teatro, as artes plásticas e até mesmo sobre outros gêneros literários. Um dia ainda vou querer desvendar esse pequeno mistério.

Desconfio que um dos motivos é que se criou um paradigma, discutível, de que a poesia tem necessariamente que ser confessional, como se o poema fosse sempre uma confissão diante do padre, que nesse caso representaria os leitores, ou então talvez o poeta fosse o paciente no divã do analista-leitor. Mas essa é só uma dentre várias hipóteses.

Penso que quando Fernando Pessoa diz que o poeta finge, é seu recurso poético pra expressar o quanto os poetas podem ser delirantes e nos pegar pela mão pra com eles viajar por paragens muitas vezes desconhecidas, descortinar novos horizontes poéticos e existenciais. E se não estou enganado, concordo com ele. A fantasia do poeta, sua inventividade e imaginação têm o dom do encantamento e até mesmo de desconcertar o leitor, pegá-lo totalmente desprevenido

Álvares de Azevedo, poeta do início do século XX escreveu inúmeros poemas de amor arrebatadores sem nunca tê-los na realidade vivenciado. Tendo morrido aos 23 anos, ele nem teria tempo de ter vivenciado tantos amores. Seus lindos poemas foram fruto de pura invenção de sua imaginação lírica.

Eu, particularmente prefiro descartar a palavra mentira, que remete a moral, a coisas negativas. Prefiro dizer fantasia, delírio, invenção, imaginação. E não escapo disso. Dentre os muitos poemas que já escrevi, tem os que são sim confessionais, quase relatos de fatos e tem também ou brotados da minha livre imaginação, inclusive de amor. Chega a ser engraçado a incredulidade de alguns diante desses poemas, revelando dificuldades em assimilar o fato de que consigo imaginar idílios amorosos, lugares e pessoas que inventei, enfim, tal qual faz um roteirista de filmes, só que usando palavras em forma de versos.

Não por acaso meu livro de poemas se chama Arrebatamentos e outros inventos...

A poesia – não me canso de afirmar isso – é um território tão singular, que abriga muitos matizes, um arco-íris de imagens, sons, palavras, realismo, fantasia, narrações, jogos de palavras. É como se fosse uma galáxia boiando no Universo em que no lugar das estrelas, fosse repleta de brilhantes poemas, versos e palavras,






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