Nosso muito querido e inspirado Manoel de
Barros disse: “o que não invento é mentira! Fernando Pessoa, outro monstro, num
trecho de um famoso poema seu, diz: “Q poeta é um fingidor / Finge tão completamente
/ que chega a fingir que é dor/ a dor que deveras sente”.
Nunca entendi plenamente porque recai sobre os
poetas e a poesia como linguagem, o compromisso com o realismo. Notem que este
tipo de cobrança incide muito menos sobre outras formas de arte, como o cinema,
o teatro, as artes plásticas e até mesmo sobre outros gêneros literários. Um
dia ainda vou querer desvendar esse pequeno mistério.
Desconfio que um dos motivos é que se criou um
paradigma, discutível, de que a poesia tem necessariamente que ser
confessional, como se o poema fosse sempre uma confissão diante do padre, que
nesse caso representaria os leitores, ou então talvez o poeta fosse o paciente
no divã do analista-leitor. Mas essa é só uma dentre várias hipóteses.
Penso que quando Fernando Pessoa diz que o
poeta finge, é seu recurso poético pra expressar o quanto os poetas podem ser
delirantes e nos pegar pela mão pra com eles viajar por paragens muitas vezes
desconhecidas, descortinar novos horizontes poéticos e existenciais. E se não estou
enganado, concordo com ele. A fantasia do poeta, sua inventividade e imaginação
têm o dom do encantamento e até mesmo de desconcertar o leitor, pegá-lo
totalmente desprevenido
Álvares de Azevedo, poeta do início do século
XX escreveu inúmeros poemas de amor arrebatadores sem nunca tê-los na realidade
vivenciado. Tendo morrido aos 23 anos, ele nem teria tempo de ter vivenciado
tantos amores. Seus lindos poemas foram fruto de pura invenção de sua
imaginação lírica.
Eu, particularmente prefiro descartar a palavra
mentira, que remete a moral, a coisas negativas. Prefiro dizer fantasia,
delírio, invenção, imaginação. E não escapo disso. Dentre os muitos poemas que
já escrevi, tem os que são sim confessionais, quase relatos de fatos e tem
também ou brotados da minha livre imaginação, inclusive de amor. Chega a ser
engraçado a incredulidade de alguns diante desses poemas, revelando dificuldades
em assimilar o fato de que consigo imaginar idílios amorosos, lugares e pessoas
que inventei, enfim, tal qual faz um roteirista de filmes, só que usando
palavras em forma de versos.
Não por acaso meu livro de poemas se chama
Arrebatamentos e outros inventos...
A poesia – não me canso de afirmar isso – é um
território tão singular, que abriga muitos matizes, um arco-íris de imagens,
sons, palavras, realismo, fantasia, narrações, jogos de palavras. É como se
fosse uma galáxia boiando no Universo em que no lugar das estrelas, fosse
repleta de brilhantes poemas, versos e palavras,
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