De quando em vez, conversando, me sinto impelido a falar
sobre meu processo de escrita, o que busco, do que fujo ao escrever e criar.
E a clássica moeda com suas duas faces opostas é metáfora e
tema onipresente: razão X emoção. Os artistas em geral e em particular os
poetas lidam com que matéria-prima e com que frequência e em que proporções?
Gosto pessoal varia. Há quem valorize a arte resultante da
pura e exclusiva emoção. Há quem, em oposição, prefira a razão como norteadora
nesse processo. Eu, particularmente não entendo essas duas forças como
excludentes e nem aritmética de percentuais de cada que devem, podem ou não
podem ser agregados.
Então meu processo de construção de textos é basicamente
assim: o fio condutor da narrativa e da minha criação é muito racional e isso
pode ser notado na lapidação de sonoridades, no encaminhamento de pulsações, no
lidar com a palavra não só a considerando em seu aspecto semântico, mas
também enquanto significante sonoro.
Mas
tenho sempre em perspectiva que este processo não precisa fechar as portas para impedir que a emoção
penetre e diria que este é um dos pilares que sustentam meu prazer da escrita,
imprimir a meus textos o zelo e o gosto pela forma, pelo som, pelos jogos de
palavras, simultaneamente ao escoar dos sentimentos de modo a que eles permeiem
e se interpenetrem na forma, ideia e emoção, pensamento e sentimento fundidos
na medida do possível.
Nem é uma convivência entre "opostos". É como se
ambos fossem uma coisa só, uma coisa estando latente dentro da outra.
Expurgar um pra que só fique o outro não costuma resultar na
melhor poesia. Poesia não lapidada, não
construída de modo a justificar o dom que a poesia tem de ser linguagem
singular que fala como nenhuma outra, se só movida pela emoção é um vaso tosco,
poder ter até alguma funcionalidade, mas abre mão de ser singular. Por outro
lado, um poema que só exibe técnica, razão e artifícios não toca, não perturba
e nem enternece.
Como poeta, busco sempre essa dualidade e essa busca me move
e provoca. Quando me dou conta de que um poema que escrevi resultou nessa moeda
de duas faces, razão e emoção num idílio, fico contente.
Na arte, na vida, no amor, há que haver os sentires com a
razão e os pensares com a emoção. Senão
seremos sempre só fragmentados e nosso partido será sempre o do coração
partido.
Neste colóquio consigo mesmo, nestes auto- carinhos, se abastece; nestas conversas sozinho, os pensamentos crescem, ganham maturidade, nesta única amizade. Uma solidão que tem prazo pra acabar, quando novos versos brotarem, novos sorrisos surgirem, novos sentimentos povoarem seus pensamentos. E neste confinamento, a contento, haverá de sorrir, nem que seja por um único momento.
ResponderExcluirObrigado pelo belo comentário em tom poético, Neusa! E obrigado por prestigiar meu blog.
ExcluirObrigado pelo belo comentário em tom poético, Neusa! E obrigado por prestigiar meu blog.
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