O
tempo, tema muito recorrente na minha poesia, é uma fabulação concreta de algo
abstrato. As ampulhetas e os relógios digitais atômicos registram unidades
disso e nos fazem crer nessa concretude.
Crono
é um escravagista cruel das nossas vidas, ações, destinos. Cada vez que temos o
lampejo de percepção de sua passagem, seu avanço, angustiados, estremecemos.
E assim nos apegamos a segundos, minutos, horas, dias e anos e séculos e eras e vivemos em função desses fragmentos mensuráveis.
O
tempo acelera ou ralenta de acordo com nosso tédio ou fome sôfrega de viver.
Nosso tempo interno, chamado tempo paradigmático, muitas vezes se revela
incongruente com o chamado tempo cronológico. Nosso ritmo interno, nossa
psicologia briga com o relógio e dessas refregas sempre resulta a sensação de
perda e impotência diante do inexorável. É o triunfo de Crono sobre nossa
natureza mortal e impermanente, nossa fugacidade.
Um
andítodo humano pra essa opressão contínua é “congelar” o tempo com alguma
vivência marcante e memorável, que proporciona transitórias sensações de o
tempo parar, eternizar o momento pra que possamos fruí-lo de forma plena em sua
pequena grandiosidade.
E
depois nos resta a memória.
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