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sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Belezas e belezas



Gosto de retomar, recorrer a certos temas. Caetano Veloso um dia disse – e concordei – que poesia a gente não lê, ou não deveria ler como quem lê bula ou relatório (essas palavras aí já são minhas mesmo, mas a ideia é semelhante) e sim com vagar, fruindo, sem pressa e sobretudo relendo e relendo.

Linguagem supressora que é (não me canso de reiterar isso), a poesia é economia de meios, é desfiar de metáforas, é construção de viés que a prosa quase nunca proporciona, ou seja, é ver a vida, o mundo, os sentimentos, sensações e percepções por ângulos inesperados.

Mas o que dentro desse contexto me ocorre pra compartilhar é o “belo” na poesia. Pra muitos, beleza e poesia são praticamente sinônimos. Talvez isso seja uma meia verdade. Seguimos milenarmente a tradição dos ideais gregos de beleza e isso não se restringe ao belo anatômico humano. Então nossa herança estética é essa e isso nos leva às (muitas) vezes ao estranhamento do “não belo” na poesia.

Um crítico de arte inglês, analisando a obra de Picasso, disse algo expressivo: “Picasso desconcerta e nos faz colidir com a preguiça da nossa rotina.”

Não posso me renegar como poeta que busca o belo, mas isso não faz de mim um artista que conserva o leitor sempre no seu mesmo lugar. Penso que a arte quando é tocante, mobiliza, impacta. E impactos tiram do lugar, são perturbadores e assim,  fazem pensar e questionar.

Alguns poetas me vêm à mente: Maiakowski, Federico Garcia Lorca, Augusto dos Anjos, Rimbaud. Na sua essência, a poesia deles mergulhou e descreveu agruras, angústias, desespero, violência, injustiça, vazio, toda gama de paixões humanas que deu uma dimensão não só universal, como também um testamento do lado menos luminoso e sublime da nossa condição humana.

E eles atingiram o belo, não esse que vem pela leveza, luz, cores, contemplação, prazer, mas pela intensidade, veemência. O aforismo “tem beleza na tristeza” se aplica a isso. Mas não só na tristeza. Tem beleza no que não aparenta na superfície. Tem beleza na simplicidade mas também em certas complexidades.

A beleza do ideal grego nos encanta mas tem muita beleza subjacente na escrita bem construída que mexe com a gente. O belo não é só o que nos confirma. Ampliemos o conceito do belo.  Arrisco afirmar que se é tocante, mobilizador, é belo.


Mesmo que não tenha arco-íris, pôr-do-sol, sorriso, paz e sentimentos nobres.
                                                          

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