Anos
atrás, Chico Buarque de Hollanda, numa longa entrevista a uma jornalista e que
se transformou num livro da série “Perfis do Rio”, revelou que não se considera
um poeta porque suas canções nascem sempre na melodia e só no final surge a
letra superposta à música. Discordo dele quanto a não se considerar poeta, já
que suas letras quando lidas têm estatura de poemas. Curiosidades à parte, a
questão que se levanta é a da musicalidade na poesia.
Não
é incomum nos depararmos com textos onde a boa sonoridade e o ritmo envolvente
estão quase ausentes. É bem verdade que a musicalidade, que é requisito da
forma, é um dos vagões de uma locomotiva chamada conteúdo, mas ainda assim há
que ter zelo também pela forma, sob risco de produzirmos poesia rica em significado, mas sonoramente pobre, relatório, bula, memorando.
Um
bom caminho pra se perceber se um poema (e eu ousaria afirmar que também a
prosa) é dizê-lo em voz alta. Um texto rico em significado, mas também com bom
ritmo, tônico, com boas pausas, bom som, flui, soa empático com o ouvido.
É oportuno
lembrar que na mitologia grega, as 9 Musas – de onde se originou a palavra
música - eram entidades inspiradoras dos
poetas. Aliás na Grécia Antiga não se fazia clara distinção entre música e
poesia e os poetas, os bardos, diziam seus poemas cantando.
Voltando
ao mestre Chico, que não se considera poeta, eu analogamente diria que o poeta
que imprime a seus versos musicalidade, deveria se considerar e ser considerado
também um compositor, que faz música só com palavras, que põe versos pra (en)cantar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário