O leitor que seja um nômade que viaja e mora num trailer não vai se identificar.
Voltar para casa é prazer, alívio, liturgia, aplacamento. Muitos de nós gostam de sair por aí, viajar, conhecer lugares, pessoas, culturas novas. É gostoso e saudável. Mas comida e abrigo são os dois itens primordiais impressos no DNA humano e abrigo não é hotel aconchegante, casa de amigo hospitaleiro, barraca em camping seguro. Abrigo é a casa da gente, o chamado lar, seja ele uma espelunca condenada pela Defesa Civil ou uma mansão no alto da Joatinga com vista pro mar. É simbólico, pronto.
Na música é no cinema é tema muito visitado, mas destaco o belíssimo O caminho para casa, do diretor chinês Zhang Yimou, o mesmo de Lanternas Vermelhas e Herói. O título faz referência a uma tradição chinesa do campo, de fazer o féretro de um morto, da sua casa até o cemitério, para que seu espírito aprenda o caminho e possa depois retornar ao lar e permanecer perto dos seus entes queridos. Tradição que dá a medida da visceral importância que damos aos retornos para casa.
O rio corre pro mar
e em nuvem de chuva
pra nascente quer voltar
Águas procuram águas. Iguais se procuram, se agregam. Ocorre na Natureza e na natureza humana. A primeira é perfeita e a segunda, intrigante.
Águas
Um certo rio
com tal fastio
de ser caudal
que vai pro mar
pra variar
não quis igual
Ouviu seu eu
se reverteu
fluiu pra trás
pr’onde nasceu
Tal qual o rio
em pleno estio
choveu pro céu
Anoiteceu
por puro afã
já de manhã
e até ventou
sem balançar
nenhum ipê
Veja você...
E o próprio mar
se decidir
que vai seguir
seu par fujão
vai inundar
tudo que é chão
até fazer
que cada ser
volte a viver
com Poseidon
E ao retornar
pr’onde nasceu
ele escutou
de longe o mar
no seu clamor
por lhe encontrar
E então voltou
com seu vigor
habitual
Manancial
que sempre vai
pra imensidão
Foi porque quis
Foi ser feliz
pro mar, então
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