Escrevi um poema que propõe um jogo lúdico pela via de uma narrativa pseudo erótica, que joga com a aparente contradição entre erotismo e não carnalidade, ou seja, o intangível tratado como denso. Recorrer às antíteses é um recurso oportuno, que pode exercer variados papéis. Um
deles é de desconcertar, coisa bastante saudável. Até porque entendo que na
arte em geral e na poesia em particular (adoro dizer isso), não vejo sentido em
apenas mais do mesmo, no previsível, dèjávu, no já dito e feito.
Desconcertar faz pensar, se questionar. Não é função única
da poesia, mas tem sua relevância. Antíteses têm o dom de nos deslocar do nosso
assento cômodo, colocando acentos onde eles convencionalmente não estão, como
marcadores, pequenos choques no nosso embotamento, porquanto cotidiano, quase
despercebido.
No caso do poema que se segue, as antíteses serviram ao
propósito de criar um espaço, um âmbito de transcendência, uma mudança de
patamar, num jogo entre o denso e o intangível, entre sensação (sentidos) e
sentimento, apontando novos sentidos. O erotismo convencional, carnal, aparente
na forma de um poema pseudo erótico.
Condensação
Muito me comove a libido
quando você, que me entende
atende os meus pedidos
e isso faz urgente
que o meu afeto
frequente o vão predileto
no fundo do teu carinho
bem apertadinho
E sem pedir licença
te cravo a minha presença
na tua febril saudade
de jamais ter saciedade
Tua aura sobe as paredes
quanto mais me bebe, mais sede
Geme a alma no estertor
O amor se adensa e faz amor
Assistam o vídeo
baseado no meu livro: http://www.youtube.com/watch?v=RwY7bTSfqpc