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sábado, 8 de outubro de 2016

Poyesis, ser ou não ser. Eis a questão?



Num país que ainda lê pouco
e onde o livro não é caro
e sim o salário é que não cabe no livro
pode parecer meio bizantino
debater os fazeres poéticos
e o tênue limite entre poesia e prosa
mas, enfim, sejamos renitentes e otimistas
até porque a Internet, mais e mais
tem se tornado
o território livre da poesia
de forma até avessa ao livro
que tem o crivo do editor


Comecei escrevendo esse post com frases, pontuação e parágrafos. Mas o tema me fez dispor o texto dessa forma vertical, típica da poesia, para alimentar o debate. É saudável a discussão, não necessariamente em busca de consensos, desde que não degenere em discriminação e patrulhamento.

Embora eu tenha brincado com livro / livre / crivo, o poema lá de cima na verdade é prosa.

No meu modo de ver não são métrica, rima, estrofes que determinam se estamos diante de prosa ou poesia e sim quando percebemos uma intenção poética no texto. Armando Nogueira escrevia crônicas futebolísticas eivadas de tiradas poéticas. Não chegavam a ser poemas, mas podemos chamá-las de prosa poética, que é um termo que tenta espelhar esse hibridismo característico da transição entre as duas linguagens. Guimarães Rosa escreveu romances num linguajar singular que o aproxima do poético, não há métrica, rima nem verticalidade visual, mas seus textos exalam poesia. 

Penso que mesmo os rigores da forma não existem para tolher a criação. Eles podem tornar prazeroso criar se atendo a cânones. De uma métrica precisa pode resultar uma rítmica envolvente, de uma rima pode emergir um conceito. Penso que no fundo é mais uma questão de habilidade, inspiração e senso poético, que resulta em boa ou má poesia e que ainda assim é visão subjetiva. Vejo poesia ruim rimada de forma forçada ou de forma sonora e criativa, assim como vejo poemas sem rima alguma que são brilhantes (Pablo Neruda fez cem belos sonetos de amor sem nenhuma) e outros tantos sem rima que são péssimos. 

Poesia de certa forma é dança e música e é dada ao poeta a escolha de tocar o piano poético, com rima, métrica ou sem elas, ou  carregá-lo penosamente nas costas, entediando e não mobilizando o leitor.

Mas discutir isso não cabe num post só.

Pra fechar, um soneto que fiz quebrando a regra das rimas, já que não as usei e ousei seguir o Neruda:

                                                       

Ungidos

Impulsionados da maneira certa
os bumerangues cumprem trajetórias
de ida e volta ao ponto de partida
com vento, chuva ou céu de brigadeiro 

Um dia um deles quase esbarra em outro
E logo ambos voam paralelos
Algo em comum além de bumerangues
os atraiu de modo irresistível

É que ao contrário dos da sua espécie
os dois são força a impulsionar a si
o que permite o voo de improviso

E ambos ungidos pelo raro encontro
se amalgamaram em nova e eterna rota
de nunca mais voltar ao mesmo ponto 


                                                                               
            Assistam o vídeo baseado no meu livro: http://www.youtube.com/watch?v=RwY7bTSfqpc

Um comentário:

  1. O debate produtivo e construtivo deveria ser base de nossas vidas em casa e na escola. E conviver com opiniões diversas é mister de tolerância para o crescimento mútuo. Julgamentos de valores artísticos variam de época em época. O importante é estarmos atentos ao que cada um tem a transmitir valorizando sempre o que há de mais positivo em cada vertente. A literatura sofreu forte fragmentação com o modernismo. Diria mais, que o homem moderno é um inteiro fragmentado. O que percebo, hoje em dia, é que há uma tentativa de reunificação do pensamento humano e a mistura de estéticas, formas, conteúdos pode ser uma tentativa de desfragmentar em busca da totalidade. Continuemos...Abração.

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