A hiena, que eu saiba, ainda não está em
processo de extinção, mas nós temos visto cada vez mais o seu riso por aí
estampado em rostos humanos ilustrando deboche e sarcasmo, costumeiras armas
dos mesquinhos. Mas o riso que brota da leveza, da alegria, mesmo aquele maroto
e gozador, este nos ensaboa e enxágua a alma e constrói instantâneas,
instintivas pontes com o outro.
A ciência nos diz que rir desencadeia
alguns processos fisiológicos benéficos. E a sabedoria popular observa que
quanto mais se ri, mais precoces e numerosos são os pés-de-galinha nos cantos
dos olhos. Que ostentamos sem tristeza.
O riso faz vinco
que se incorpora ao olhar
Mais, quanto mais brinco
Ridículo é o que produz o riso. Temos a
vocação tanto para cair no ridículo - do qual tentamos escapar e por isso mesmo
nos afundamos ainda mais nele – quanto de rirmos do ridículo alheio.
Aliás, o riso é contagiante. Se alguém
gargalha, mesmo não sabedores do motivo, entramos em ressonância e cada um que
se soma a esse coro, é como uma garrafa a mais derrubada nesse boliche.
Rasguem os currículos
Viver não é tão a sério
Sejamos ridículos
O palhaço nos representa bem. Somos aquele
atrapalhado, ardiloso, criança pequena ou grande, sentimental, sonhador, no
picadeiro, nas telas. Arrelia. Carlitos.
Rindo deles, rimos sobretudo de nós. E isso
nos mantém humanos.
Rito
Nem sempre vem à boca o riso mais sagaz
Às vezes se dilui no sopro das narinas
Por outras só se nota o brilho das retinas
Não raro as gargalhadas são só viscerais
Existe o sério, estreita fenda pensativa
Estranho e intrigante como o da Gioconda
Também o que transforma múmia em coisa viva
Que surge sem motivo e se propaga em ondas
O riso é um incessante rito de passagem
Do medo mais adulto à infantil coragem
No rir pra não chorar que atenua a dor
O riso teima em vir em tempos de não rir
Resiste até no esgar do rosto de um faquir
No riso derradeiro de quem ri melhor
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