O mundo, década após
década, foi cada vez mais se estruturando em imagens e imagem. A propaganda e o
marketing foram injetando a superficialidade no comportamento e continuam
fazendo isso de forma cada vez mais massiva. Não só o ter sobrepujando o ser,
como até o próprio ser sendo sistematicamente atrelado ao poder, transformando
o sistema de crenças coletivo.
A virtualidade, aquisição
recente, se transformou num bem comum e entre bons e maus usos, vimos vicejar o
game Second Life transposto pra “realidade”, o sorriso automático pra foto, o
perfil na rede social irradiando felicidade, sucesso e o estar “de bem com a
vida” sem limites.
Na verdade, a vida
social nos induz a, muito frequentemente e sem que nem nos demos conta, não só
vestir uma máscara, mas sobrepor uma sucessão delas, cada camada representando
o que se quer aparentar em dado momento e circunstância. Então um ato
aparentemente catártico de retirada, de uma máscara, de desnudamento, acaba sendo aquela dança dos
sete véus, onde só se tira o véu mais superficial e mesmo assim dá-se a dança
por concluída.
Preocupação assim
quase patológica com autoimagem e sua propagação social tem íntima ligação com
as nossas idealizações e elegemos como prioridade tornar público um eu que
gostaríamos que fosse real e principalmente estável e permanente. Porque a ideia
da não aceitação por nossos pares igualmente idealistas nos esmaga.
A poesia, quase que
sempre tendendo às idealizações, não trata com frequência desse tema. Esta
sanha não poupa nem os poetas. Não somos imunes a ela, mesmo buscando vieses
estéticos e temáticos diversos.
Uma tentativa minha de
pegar outros trilhos pro meu trem, desvios da linha principal, figura nesse
poema:
Desvenda
Intruso,
saltimbanco
Irado,
anjo torto
Invado
e te arranco da zona
de
conforto
em
que te encontras
sua
tonta
Bem
no cais do porto
seguro,
cercado de muros
Se
a vida te clona
Faz
de ti outra quase igual
Te
trago de volta à tona
Que
quero a original
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