Importante

Todos os textos do blog, em prosa e verso, a não ser quando creditado o autor, são de minha autoria e para serem usados de alguma forma, necessitam de prévia autorização.

domingo, 18 de setembro de 2016

Máscaras sobre máscaras

O mundo, década após década, foi cada vez mais se estruturando em imagens e imagem. A propaganda e o marketing foram injetando a superficialidade no comportamento e continuam fazendo isso de forma cada vez mais massiva. Não só o ter sobrepujando o ser, como até o próprio ser sendo sistematicamente atrelado ao poder, transformando o sistema de crenças coletivo.


A virtualidade, aquisição recente, se transformou num bem comum e entre bons e maus usos, vimos vicejar o game Second Life transposto pra “realidade”, o sorriso automático pra foto, o perfil na rede social irradiando felicidade, sucesso e o estar “de bem com a vida” sem limites.

Na verdade, a vida social nos induz a, muito frequentemente e sem que nem nos demos conta, não só vestir uma máscara, mas sobrepor uma sucessão delas, cada camada representando o que se quer aparentar em dado momento e circunstância. Então um ato aparentemente catártico de retirada, de uma máscara, de desnudamento, acaba sendo aquela dança dos sete véus, onde só se tira o véu mais superficial e mesmo assim dá-se a dança por concluída.

Preocupação assim quase patológica com autoimagem e sua propagação social tem íntima ligação com as nossas idealizações e elegemos como prioridade tornar público um eu que gostaríamos que fosse real e principalmente estável e permanente. Porque a ideia da não aceitação por nossos pares igualmente idealistas nos esmaga.

A poesia, quase que sempre tendendo às idealizações, não trata com frequência desse tema. Esta sanha não poupa nem os poetas. Não somos imunes a ela, mesmo buscando vieses estéticos e temáticos diversos.


Uma tentativa minha de pegar outros trilhos pro meu trem, desvios da linha principal, figura nesse poema:


Desvenda


Intruso, saltimbanco
Irado, anjo torto
Invado e te arranco da zona
de conforto
em que te encontras
sua tonta
Bem no cais do porto
seguro, cercado de muros

Se a vida te clona
Faz de ti outra quase igual
Te trago de volta à tona
Que quero a original



Nenhum comentário:

Postar um comentário