Sempre fui fã de esportes. Eu mesmo fui por longo tempo
praticante, curiosamente de um esporte que, quando praticado em nível amador e
de massa, tem como seu rival e competidor, você mesmo, sempre tentando melhorar
suas próprias marcas e sempre se sentindo um vencedor só por completar a extenuante
prova de 42 km.
No entanto não é assim quando se trata do esporte
profissional, com suas confederações, patrocinadores, mídia, etc. A competição
é desenfreada e se chega ao ponto do uso
de substâncias proibidas. É muita pressão e anos de árdua preparação e
sacrifícios da vida pessoal, tudo de repente pode desmoronar por uma diferença
de um centímetro ou um centésimo de segundo.
Os Jogos Olímpicos eram um evento capital na Grécia Antiga e
serviam para exaltar a força, a resistência, a rapidez dos soldados. Uma
celebração - com laivos de propaganda - da supremacia dos guerreiros gregos sobre
outros povos. No século XX, já na era moderna dos Jogos, em 1936, em plena
ascensão do Nazismo, Hitler tentou esse recurso. Cada atleta alemão que vencia
uma prova no estádio lotado em Berlim, era enaltecido como mais uma das provas
da superioridade da raça ariana. Não deu muito certo, porque alguns negros
colocaram água no chopp alemão, culminando com a esmagadora vitória de Jesse
Owens nos 100 m rasos.
Por ser um aficionado dos esportes, me sinto à vontade pra
questionar. Por que esse paroxismo com as competições? A essência dos Jogos
Olímpicos permanece até hoje: são Jogos de Guerra. Sim, os atuais são uma
guerra só simbólica, onde o sangue não corre na arena e nem a Morte ronda as
pistas e os ginásios. Mas são disputas que celebram o mais forte, o mais apto,
uma visão darwiniana da vida.
E para que haja um vencedor, é preciso que haja um ou mais
perdedores. Já vimos várias vezes os pódios com “choro de prata”: o guerreiro
que lutou com bravura mas no confronto final foi derrotado. Refleti sobre isso
e me dei conta do quão eugênico o mundo ainda é e talvez continue sendo para
sempre. Somos bilhões de não heróis aplaudindo
uma pequena casta, a nata da raça humana.
Texto que nos põe a pensar. Parece que a necessidade de provar a supremacia de uns sobre outros, infelizmente, não se restringe a esse cenário dos Jogos Olímpicos.Cotidianamente, num mundo predominantemente desigual, o discurso da meritocracia ainda tem muitos adeptos. Lendo o que escreveu a respeito dos Jogos Olímpicos fiquei me perguntando até onde vai aparecer a ideia de que o que importa é competir, quando aqueles que não alcançam a vitória (ou seria mais adequado dizer: o pódio?) são esquecidos. Mas, acho que talvez nos esportes coletivos esse peso de ser o melhor seja minimizado, pois, enfim é partilhado pelo grupo.
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