“Deu-me náusea, aquele homem, causava-me ódio e susto, eriçamento, espavor. E era – logo descobri ... era eu, mesmo!" (Guimarães Rosa – O espelho)
De novo o espelho, um dos meus temas recorrentes.
A função do espelho é refletir. Nosso duplo reflete. E nós, os originais, também refletimos. Reflexos são um tanto perturbadores. Miramos nosso reflexo como o outro nos vê. Então nós no espelho parecemos o outro. Porque esta é a única situação em que vemos nossa própria imagem. Nosso reflexo nos imita, só que nos inverte. Iguais e não. Cópias vítreas e planas.
Espelhos seduzem o Narciso em nós. São irresistíveis, nos atraem feito ímãs. Se são públicos, olhamos pra eles, ou seja, pra nós, comedidamente. Sem testemunhas, fazemos caretas, conversamos conosco em voz alta, simulamos olhares e gestos, linguagem corporal de conquista. Mas tem espaço também pros estranhamentos, a não aceitação de uma ruga nova, cabelos começando a rarear.
Ambiguamente, o espelho seduz e afronta, porque na verdade nos confronta com nós mesmos.
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