O poeta que vos fala foi um cinéfilo precoce. Tanto que em
plena adolescência já tinha me decidido a estudar Cinema na Universidade e
assim o fiz.
Cinema, multiarte complexa, exerce fascínio em muitos,
merecidamente. E comigo não foi diferente. Cinema é imersivo. Na sala escura
você mergulha e meio que deixa de ser você por umas horas e encarna o herói, o
vilão, o personagem que te toca, viaja com ele e suas angústias, prazeres,
sonhos, covardias e coragens. Ora escapismo, ora soco na boca do estômago.
Essa paixão certamente alimentou minha imaginação e abastece
o poeta até hoje. Não por acaso muitos consideram muito imagética a minha
poesia. E de fato, creio que parte substancial da minha produção evoque imagens,
mesmo sem lentes , sem tela, sem autofalantes, a palavra, seu som e
significado, a palavra como único suporte e veículo levando à convergência de
razão e emoção, mobilizando, tirando da zona de conforto, instigando o pensar.
O olhar singular do poeta é o filtro, a câmera, sua caneta
ou teclado, os refletores que lançam luz na cena e em segundos de leitura temos
o filme-poema expressando mundos externos e internos. Cinema, poesia e música
(nas canções) são transes que cada um vivencia e processa ao seu modo.
Poemas são curta-metragens cujo som e movimento ocorrem
latentes, quando o que deles emana se converte em percurso, experiência e
arrebatamento.
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