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sexta-feira, 1 de julho de 2016

O soma e as somas


Hoje viajei no metrô e como não tinha nada pra ler, comecei a observar as pessoas e ver o quanto somos inquietos. Ninguém fica parado por mais de um ou dois segundos, a não ser que esteja dormindo. Temos uma natureza cinética onde tudo remete a movimento, já a partir da respiração, dos batimentos do coração e do piscar de olhos, induzidos pelo nosso sistema nervoso autônomo. Um coça o nariz, outro cruza os braços, outro descruza as pernas, outro mete a mão no bolso. Nada para: mãos,  pés, cabeça, olhos. Observei isso até em mim. Vivos, pulsáteis, nos movemos. A linguagem sem palavras do corpo traduzida aqui em palavras nesta prosa poética:



Réus da densidade, vítimas da gravidade. Como somos somáticos! Densos. Asmáticos. Tensos. Um corpo que porta seu anima nunca sossega nem ao dormir. Perene refrega. Gente pisca (bichos também), estala dedos, coça a cabeça se perde a condução. Tudo vem pra mão, que fala junto com a boca. Gente verte lágrimas (bichos não), até quando se alegra. Até tem regras. Etiqueta. Mas somos diversos. Fazemos discursos, piadas, versos, que o corpo somatiza. Abraços de urso, pisadas no calo. Dói, como ignorá-lo? Alma de inquietudes. O corpo traduz sombra e luz, vícios, virtudes. Nos nós da densidade, cá estamos nós, já com saudades do que ainda não veio. Copo e corpo meio vazio ou meio cheio?


3 comentários:

  1. O olhar do poeta vê poesia em tudo... Está aí a grande prova, um texto poético que soma imagens cotidianas ao mundo imaginário. Muito bom...

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  2. Obrigado, Colégio! (Risos). Seu comentário me trouxe Manoel de Barros. Penso que poucos poetizarão o cotidiano mais e melhor que ele. Mentindo só 10% e o restante, inventando.

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