Um dos meus mestres em psicomotricidade, Pedro Honório, marcava sempre a diferença entre o que ele chamava de cultura versus natura. O homem natural sob muitos aspectos se opõe ao cultural e se isso traz suas riquezas - poderíamos apontar inúmeros exemplos disso – traz também conflitos. O homem é educado para, dependendo de cada instância e circunstância, conter, controlar, reprimir e sufocar seus instintos.
Então cada impulso é regulado, passa pelo crivo da razão. E como o instinto, atávico, ou seja, a natura é força poderosa, não raro ele vence esse embate e isso tanto pode redundar em redenção quanto em desastre.
Impulsos podem nos guiar em ações positivas, benéficas, construtivas. É quando o ímpeto alimenta nossa coragem. É quando não nos refugiamos no pretexto covarde das pseudo-razões.
No aspecto sombrio da questão, certos impulsos podem levar a ações e decisões precipitadas, tresloucadas, mais que irracionais, insanas. Ou então prevalece a omissão, que também pode produzir resultados de conseqüências terríveis. Ambos, cada um ao seu modo, patológicos.
Uma das questões cruciais do homem é se mover no mundo, na vida, entre esses extremos e não necessariamente tendo que abdicar desses extremos, que vez por outra são mesmo a escolha mais saudável e buscar um delicado e um tanto paradoxal equilíbrio, já que lida com forças poderosas que o atraem para direções opostas.
Equilíbrio não é estado permanente e tampouco estático. Como tudo na vida, a começar pelos elétrons pulsáteis, pela expansão do Universo e pela nossa respiração, é dinâmico. Não são os dois pratos da balança permanentemente nivelados. A busca do equilíbrio se dá durante o movimento e na instabilidade.
Como sabiamente está estampado numa blusa minha: O movimento equilibra.
Relâmpago
Na
entressombra
tem um
resplandecer
que, fugaz
num momento
inefável
faz-se
endovenoso
imprime-se indelével
na alma
Retinas
viram cometas
Então,
sumário
tácito
se desvanece
outra vez
na
entressombra
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