Voltando ao tema experimentações (como eu abuso da paciência
de vocês!), a poesia, dentre as Letras, não é o único terreno fértil pra
experimentações. Sim, isso provavelmente se dá mais nesse campo da poyesis, mas
não esqueçamos que James Joyce e Guimarães Rosa, entre outros, o fizeram em
romances.
Experimenta-se com a forma – a palavra em relevo mais como
significante que significado – com os sons, os ritmos e até com os conteúdos,
significados em aberto, ambivalentes, ou suprarreais, enfim.
Experimenta-se com transgressões a formas poéticas mais
tradicionais. Exemplo: com a popularização dos haicais, que são poemas
tradicionais japoneses de apenas 3 versos, o que já se transgrediu aí é
incontável. Quebras de regras, a maioria intencionais, de número de sílabas, de
temas, a incidência de rimas.
Experimenta-se com a poesia visual, no concretismo dos irmãos
Campos e de Décio Pignatari.
Experimenta-se com os neologismos, as aglutinações de palavras,
criando ricos e novos significados pela fusão de duas palavras preexistentes.
Experimenta-se com o rapp, assim como os repentistas, no
improviso veloz.
Já experimentei e transgredi com de tudo um pouco, mas acho
que do que sempre gostei mais foi experimentar com sonetos. Peguei-me pensando
no porquê disso e acho que já encontrei a resposta.
Sempre tive prazer em
me propor desafios na escrita. Bem, o simples fato de concluir um soneto, como
todos os seus rigores de construção, que levam o autor à loucura de escrever
todo o tempo com um olho na forma e outro no conteúdo e isso é mais árduo de
construir que qualquer outra forma poética, imaginem então se propor a escrever
um soneto inteiro apenas feito com palavras monossílabas (acabei escrevendo
três), ou só com palavras proparoxítonas (fiz dois), pra não falar de sonetos
com todas as métricas possíveis, desde uma a treze sílabas (os sonetos
clássicos são os de dez ou doze sílabas métricas, sendo que os de cinco e sete,
são chamados de sonetilhos). Até um soneto sem nenhuma rima eu fiz, à la Neruda
nos seus Cem sonetos de amor.
Vou compartilhar com vocês um desses sonetos, no qual cismei
que todo final de verso teria de ser com uma palavra proparoxítona e com rimas preciosas.
A ideia era dar um tom jocoso ao personagem que narra, um tremendo
hipocondríaco que ou não sabe disso, ou sabe mas prefere acreditar que não
sabe.
0u sabe mas apenas nega, como "algumas" figuras da
vida pública...
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