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segunda-feira, 22 de agosto de 2016

A maré

Amar é de bom tom. Tão de bom tom que se tornou politicamente correto. O indivíduo que não ama alguém, não ama o próximo, mesmo que seja num hiato de tempo, mesmo que seja uma fase, um momento de indisponibilidade desse afeto, é meio mal visto. Acham e dizem que o sujeito é frio e indiferente. Colam já a etiqueta da vilania em sua testa.

Porque amar é bem visto, o amor, ornado com todos os enfeites e efeitos especiais sob os auspícios das idealizações, é tornado explícito a qualquer preço e daí vem a banalização.

Amor genuíno, sabemos, é sentimento singular e como tal, não o sentimos por tudo e todos, nem o vivenciamos todo o tempo. Nas nossas contradições humanas existe lugar também para outros sentimentos menos luminosos e nobres, ódio, despeito, egoísmo. Mas cobra-se perfeição inumana e isso leva ao flerte com a banalização.

A linguagem expressa e legitima o que se pensa e o que se quer ou não. Quem quer garantir a simpatia e aceitação do outro, abusa do verbo amar e do substantivo amor. Um bloco de carnaval carioca se chama Simpatia é quase amor. Licença poética concedida e irreverência à parte, o fato é que hoje se distribui fartamente “te amo” e “meu amor” pra tudo e todos e em todas as direções.

E assim se nivela por baixo esse sentimento, colocando no mesmo pacote o amor real e algo que ganha ares um tanto caricatos. E tome corações distribuídos como “santinhos” de cabos eleitorais de candidatos políticos. Já foi incorporado pelo chamado senso comum.


Mas o amor, o de verdade, segue sendo uma força motriz que nos coloca num lugar e estado de espírito absolutamente singulares, que as palavras e a arte em geral continuarão proocurando descrever, definir, iluminar e compreender. E nos tocar.



Um comentário:

  1. Indo e sentindo os versos da sua maré

    Banalizar o banal
    sentir sem moeda de troca
    ou fazer disso troça
    apenas se permitir
    no impulso da simbologia
    só ir e ser toda poesia
    magia e rima corrente
    coerente e coração
    ser também neurônios
    que pausam
    a respiração.
    - Iatamyra Rocha

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