Amar é de bom
tom. Tão de bom tom que se tornou politicamente correto. O indivíduo que não
ama alguém, não ama o próximo, mesmo que seja num hiato de tempo, mesmo que
seja uma fase, um momento de indisponibilidade desse afeto, é meio mal visto. Acham
e dizem que o sujeito é frio e indiferente. Colam já a etiqueta da vilania em
sua testa.
Porque amar é
bem visto, o amor, ornado com todos os enfeites e efeitos especiais sob os
auspícios das idealizações, é tornado explícito a qualquer preço e daí vem a banalização.
Amor genuíno,
sabemos, é sentimento singular e como tal, não o sentimos por tudo e todos, nem
o vivenciamos todo o tempo. Nas nossas contradições humanas existe lugar também
para outros sentimentos menos luminosos e nobres, ódio, despeito, egoísmo. Mas
cobra-se perfeição inumana e isso leva ao flerte com a banalização.
A linguagem
expressa e legitima o que se pensa e o que se quer ou não. Quem quer garantir a
simpatia e aceitação do outro, abusa do verbo amar e do substantivo amor. Um
bloco de carnaval carioca se chama Simpatia é quase amor. Licença poética
concedida e irreverência à parte, o fato é que hoje se distribui fartamente “te
amo” e “meu amor” pra tudo e todos e em todas as direções.
E assim se
nivela por baixo esse sentimento, colocando no mesmo pacote o amor real e algo
que ganha ares um tanto caricatos. E tome corações distribuídos como
“santinhos” de cabos eleitorais de candidatos políticos. Já foi incorporado
pelo chamado senso comum.
Mas o amor, o de
verdade, segue sendo uma força motriz que nos coloca num lugar e estado de
espírito absolutamente singulares, que as palavras e a arte em geral
continuarão proocurando descrever, definir, iluminar e compreender. E nos
tocar.
Indo e sentindo os versos da sua maré
ResponderExcluirBanalizar o banal
sentir sem moeda de troca
ou fazer disso troça
apenas se permitir
no impulso da simbologia
só ir e ser toda poesia
magia e rima corrente
coerente e coração
ser também neurônios
que pausam
a respiração.
- Iatamyra Rocha