foto de Sebastião Salgado
Tem beleza na tristeza? Não a pergunta, mas a afirmação, quando em vez, se interpõe no nosso caminho. Cabe aqui distinguir e entender: violência, injustiça, usurpação produzem tristeza e nisso não há beleza alguma. A ideia de uma certa beleza emanar da tristeza na verdade diz muito mais respeito à melancolia, esse sentimento peculiar que herdamos dos portugueses. Beleza na tristeza advém do que se produz artisticamente inspirado e motivado pelas melancolias nossas de cada dia e poesia.Isso me faz lembrar do Sebastião Salgado, nosso grande fotógrafo, cujo nome e trabalho geram controvérsias. Não pouca gente acha que Salgado glamuriza a pobreza nas suas fotografias em preto e branco e que haveria uma intenção nele de com isso extrair beleza da tristeza. Não compartilho dessa leitura. Penso que ele é um cronista sem palavras dos efeitos das mazelas sociais e seu talento acaba “estetizando” a miséria e a tristeza que dela transborda.
Mas o que se depreende de uma obra de arte não é monopólio de quem a cria e o entendimento e os sentimentos que ela produz pertencem a quem a frui e não mais ao seu criador. A cada um é facultado o arbítrio de ver beleza onde e no que se queira ver, seja numa foto do pôr-do-sol, num texto erótico recheado de palavras chulas, numa tragédia grega ou num dramalhão mexicano.
E quem sabe, verão alguma beleza nesse soneto triste...
Pétalas de pedra
Depois de tanto riso e derramadas juras
Na última é febril borrasca de verão
Um vento traz enfim o outono e a solidão
E sopra penetrante a lança da amargura
Veneno que corrói sem dó nem piedade
Um cálice, não mais, é o justo fel que basta
E o campo mais florido o vento então devasta
Degreda o coração pr’uma prisão sem grades
O inverno cobrirá por ordem do deus Crono
de gelo glacial as flores do abandono
que crescem no jardim sem dono do meu peito
E fósseis que serão, em milenar futuro
as pétalas de pedra, num buquê tão duro
talvez ainda lembrem um amor-perfeito
Assistam o vídeo baseado no meu livro: http://www.youtube.com/watch?v=RwY7bTSfqpc
Gostei muito! Tanto do texto, quanto do poema...Um abraço!
ResponderExcluirFico feliz com isso, Alex. Obrigado!
ResponderExcluirTudo de LINDO!!!!!!!!!!!
ResponderExcluirNão me lembrarei
ResponderExcluirDe amores perfeitos
Num futuro milenar
Meu coração
Será talvez um fóssil
Enterrado
Numa crosta de gelo
Crono
Nada tem a me dizer
Sobre
As horas de abandono
Nem mesmo Zeus
Com seus raios
De fogo...