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segunda-feira, 18 de junho de 2012

Particular universal


A indução é o procedimento que leva do particular ao universal: com esta definição de Aristóteles concordaram todos os filósofos. O próprio Aristóteles vê na indução um dos dois caminhos pelos quais conseguimos formar nossas crenças; a outra é a dedução (silogismo).


Venho me convencendo e comentando com amigos poetas, de que quanto mais particulares somos como artistas, mais universais nos tornamos. Vi O exótico hotel Marigold, filme inglês com um elenco só de feras, encabeçado por Judi Dench e Tom Wilkinson, que narra a história de um grupo de ingleses idosos que decide ir morar na Índia e em meio àqueles previsíveis choques culturais, acabam encontrando a si mesmos.


Para ser universal, para falar de ideias e sentimentos com o traço comum ao humano, não é preciso necessariamente ser generalista ou mesmo metafísico. Não se trata de dar receitas, pelo contrário, desconstruí-las. As idiossincrasias próprias de cada cultura, cada local, cada individualidade, resultam mais empáticas e penetrantes do que possa pressupor nossa vã ideia preconcebida.


Como alegórica moeda que é, a globalização tem seu lado perverso, que é o do monopólio cultural imposto pelo mais forte, mas seu lado luminoso é o da instintiva comunhão entre os seres humanos com suas características socioculturais preservadas, mas com a universalidade permeando isso tudo.


Um único exemplo basta para ilustrar: a música. Não importa o ritmo, os timbres e no caso de canções, nem mesmo a língua; ela toca a todos como talvez nenhuma outra forma de expressão humana. 


A poesia também funciona assim. Há poucos dias disse o poema abaixo, feito em tom confessional e ele provocou certa comoção em quem depois se disse profundamente identificado com o texto. Num âmbito mais amplo, além-fronteiras isso se preserva com boas versões e traduções.


De mudança

Vou mudar pra minha vida
Tô de mudança pra lá
A rota, meio esquecida
sumiu dentro do sofá
Teve entrada sem saída
Teve espinhela caída
Teve instinto suicida
Teve fuga e investida
Umas paixões desabridas
feito álcool na ferida
Jejuns em pleno maná
Isadora, Virna, Frida
Côte D’Azur e Irajá
Maraca, Lapa, Avenida
e Visconde de Mauá

Desde o ponto de partida
no rumo de Shangri-lá
me perdi da minha vida
zanzando daqui pra lá 

Vou mudar pra minha vida
mesmo perdendo o crachá
Vida quase acontecida
Era nunca, agora é já
Comprei passagem de ida
A volta é o mundo que dá
E em voltando pra jazida
cavar com as mãos, mas com pá

Vou voltar pra minha vida
antes que a vida me vá
que ela é muito decidida
feito um doido da Al Fatah
A alma desespremida
num corpo que inda vá lá
naquela rua florida
pegado à casa de chá
exposta e quase escondida

Pra chegar, tô de saída
e basta de blablabla
Om, namastê, saravá!


   Assistam o vídeo baseado no meu livro: http://www.youtube.com/watch?v=RwY7bTSfqpc    

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