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domingo, 10 de junho de 2012

Tem beleza na tristeza


foto de Sebastião Salgado                                                      
                                                                                                                                                                                                  Tem beleza na tristeza? Não a pergunta, mas a afirmação, quando em vez, se interpõe no nosso caminho. Cabe aqui distinguir e entender: violência, injustiça, usurpação produzem tristeza e nisso não há beleza   alguma. A ideia de uma certa beleza emanar da tristeza na verdade diz muito mais respeito à melancolia, esse sentimento peculiar que herdamos dos portugueses. Beleza na tristeza advém do que se produz artisticamente inspirado e motivado pelas melancolias nossas de cada dia e poesia.


Isso me faz lembrar do Sebastião Salgado, nosso grande fotógrafo, cujo nome e trabalho geram controvérsias. Não pouca gente acha que Salgado glamuriza a pobreza nas suas fotografias em preto e branco e que haveria uma intenção nele de com isso extrair beleza da tristeza. Não compartilho dessa leitura. Penso que ele é um cronista sem palavras dos efeitos das mazelas sociais e seu talento acaba “estetizando” a miséria e a tristeza que dela transborda.


Mas o que se depreende de uma obra de arte não é monopólio de quem a cria e o entendimento e os sentimentos que ela produz pertencem a quem a frui e não mais ao seu criador. A cada um é facultado o arbítrio de ver beleza onde e no que se queira ver, seja numa foto do pôr-do-sol, num texto erótico recheado de palavras chulas, numa tragédia grega ou num dramalhão mexicano. 


E quem sabe, verão alguma beleza nesse soneto triste...




Pétalas de pedra


Depois de tanto riso e derramadas juras
Na última é febril borrasca de verão
Um vento traz enfim o outono e a solidão
E sopra penetrante a lança da amargura

Veneno que corrói sem dó nem piedade
Um cálice, não mais, é o justo fel que basta
E o campo mais florido o vento então devasta
Degreda o coração pr’uma prisão sem grades

O inverno cobrirá por ordem do deus Crono
de gelo glacial as flores do abandono
que crescem no jardim sem dono do meu peito

E fósseis que serão, em milenar futuro
as pétalas de pedra, num buquê tão duro
talvez ainda lembrem um amor-perfeito


   Assistam o vídeo baseado no meu livro: http://www.youtube.com/watch?v=RwY7bTSfqpc    


4 comentários:

  1. Gostei muito! Tanto do texto, quanto do poema...Um abraço!

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  2. Fico feliz com isso, Alex. Obrigado!

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  3. Não me lembrarei
    De amores perfeitos
    Num futuro milenar
    Meu coração
    Será talvez um fóssil
    Enterrado
    Numa crosta de gelo
    Crono
    Nada tem a me dizer
    Sobre
    As horas de abandono
    Nem mesmo Zeus
    Com seus raios
    De fogo...

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