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sexta-feira, 22 de junho de 2012

Ecologistas da alma


De tudo que vi e li na Rio + 20, apesar da multidão se acotovelando e inviabilizando uma fruição mais adequada de tudo, não foram as evidências do efeito estufa, da degradação do ar e das águas, nem mesmo das propostas de desenvolvimento sustentável que me impactaram mais. O que mais me tocou foi a poesia de Manuel Bandeira, de João Cabral, de Drummond, de Augusto dos Anjos, que quem concebeu a mostra, sabiamente imprimiu nas paredes logo na entrada das salas. Poemas que ressaltam que a ecologia humana é a mais relevante e geradora de toda a consciência da ecologia do ambiente.


Em meio a tantos recursos técnicos de ponta, feixes de laser, projeções em 3 D, tudo bonito, criativo e high tech, lá estava a boa e velha palavra escrita conquistando espaço em corações e mentes, traduzindo a seu modo tão singular, pela visão poética, a fome, a miséria, a exploração do homem pelo homem, as desigualdades sociais que levam à degradação, mais do que do ar e da água, a da dignidade humana.


O bicho


Vi ontem um bicho
na imundície do pátio
catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
não examinava nem cheirava:
engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
não era um gato,
não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.
                                Manuel Bandeira


O poeta e a Poesia repercutem a consciência coletiva. São veículos potentes para induzir o desejo da mudança, porque tocam a alma e assim, comovem, mobilizam. A poesia grita sua indignação de maneira única. 
O aperto no peito que senti com a leitura desse poema do Bandeira, não foi só meu, mas de muitos, lá. Estou certo disso.
Enquanto saía da Rio + 20, pensei: mais uma vez prevaleceu a poesia e o poder que dela emana.


Quando do massacre em Eldorado dos Carajás:


Eldorado

Ditos os clichês os mais surrados
Feitos os discursos mais banais
Pérolas do óbvio aos bocados
Nau que vai a pique em pleno cais

Quando a fome aperta e o teto falta
que fagulha acende a esperança?
Ratos são tangidos pela flauta
Homens, pelo mel da fala mansa

Nesse jogo as cartas são marcadas
Onde o risco sempre é quase tudo
e a recompensa, quase nada

Bala adoça a boca ou fura o peito
Líderes falando e o povo mudo
Fila indiana em beco estreito







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