No flerte com as palavras, em meio à por vezes árdua urdidura dos versos, mesmo que a empatia seja recíproca, a insegurança diz presente. Sentimento típico de quem ama e não vê com bons olhos a possibilidade de ser traído pelo objeto da sua paixão. Mas também o receio do poeta de não honrar as palavras e em consequência não conseguir brindar seu leitor com um texto fluido, eloquente, que instigue, comova, acrescente.
Curioso este triângulo amoroso formado por autor, texto e leitor. Existe uma relação direta e indireta entre os três lados deste triângulo. O texto de certa forma é mediador entre autor e leitor. E se, autor, reverencio a palavra, numa relação direta com elas, de um modo indireto mostro meu zelo com o leitor.
Não se trata de escrever com a intenção de agradar. Escrevo antes de mais nada, para agradar a mim. Trata-se, sim, de apuro, de fazer com empenho e gosto. Talvez por isso eu já tenha escrito vários metapoemas, ou seja, poemas metalinguísticos, que usam a poesia para falar da própria poesia como entidade, o fazer poético, os porquês de poetar.
Vejo o leitor, de Literatura em geral e de Poesia em particular, como quase um coautor, que com sua imaginação e subjetividade se apropria do texto e a partir daí o autor não é mais seu dono, pelo menos não mais o dono exclusivo, senhor que não é do que cada leitor constrói quando lê e o poema o toca, modifica ou reforça.
Apropriem-se, pois. O autor permite e precisa disso.
Anti-tese
I
Queria um texto lento
de quase infinitude
sem mancha nem virtude
Inútil pro momento
Um anti-fabuloso
Sem nem moral da história
desfecho ou noves fora
Que fosse nebuloso
Extenso é o que preciso
mas ele, obstinado
me sai assim conciso
Se dá por terminado
II
Queria um texto arisco
veloz como um espirro
que não temesse o risco
da pronta rejeição
nem mesmo a pretensão
de um fácil elogio
Bem curto, bem vazio
Resumo, rodopio
Um texto assim no cio
Um grito de aflição
veloz como um pavio
na urgência da explosão
Mas como eu só queria
a vâ telegrafia
já quase o Alcorão
desperto da ilusão
Inúmeros os versos
já mais do que dispersos
Jamais breves serão
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