Volta e meia alguém me pergunta de onde vem a inspiração e eu brinco de dizer que só sei para onde ela vai: para os pulmões. Picasso disse que seu trabalho era 10% inspiração e 90% transpiração. Não tomemos esta afirmação ao pé da letra, já que foi uma força de expressão e valorar matematicamente tal coisa seria impraticável.
Mas penso que mesmo nos momentos mais árduos da tentativa e erro, do parágrafo que não fecha, do verso que empaca, dos deletes, do insight que insiste em permanecer out, do título que não vem, o que no fundo predomina, mesmo que a consciência não detecte, é a criação, a ideia, o achado poético, a palavra com a sonoridade adequada, a música acontecendo, mesmo que não haja propriamente notas musicais. A coisa está por ali, subjacente em sua latência, viva, à espera de que a tirem do fundo, como um peixe fisgado pelo anzol. Há que apenas não ter medo de arriscar o garimpo e deixar falar mais alto o desejo das pepitas e pérolas.
A pergunta se faz de novo presente: de onde vem? Dos desvãos escuros ou cumes luminosos da memória? De uma epifania? Do inconsciente coletivo? Há quem ache que o artista é só arauto, antena e canalizador. Pode ser, mas já me satisfaz pensar que ele é um agente provocador, que ora obriga a nos deslocarmos do nosso ponto de vista habitual, ora só nos aprofunda numa percepção que já temos.
E provocador que foi, Nietzsche disse: "temos a arte para que a verdade não nos destrua"
Linda forma de começar um sábado, lendo texto tão bem escrito e refletindo sobre um tema tão presente em nossas vidas, a nossa capacidade de escrever.
ResponderExcluirBom dia, Jorge!!!
Obrigado, Catarina. Nossas postagens na Confraria, nossas trocas, têm me feito refletir sobre esse tema.
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