Importante

Todos os textos do blog, em prosa e verso, a não ser quando creditado o autor, são de minha autoria e para serem usados de alguma forma, necessitam de prévia autorização.

sexta-feira, 22 de junho de 2018

Noites adentro






Noititudes


A noite, quer você note ou não, é açoite no coração, é quando os fantasmas lhe fazem crer que lhe darão o prazer de não aparecer, mas são insones, clones de si mesmos, e lhe fustigam nada a esmo, com precisão cirúrgica e obsessão metalúrgica. A noite fala baixo e por isso acende um facho no seu próprio ruído interno e é um inferno ter de ouvir angústias sem elixir, aflições como rojões, enredos de puro medo, sirenes de incêndios imaginários e tapa-ouvidos precários. Noite requer o antídoto da distração, filme na televisão, mesmo dramalhão, jogar videogame game over ninguém me ouve, comer mesmo sem fome, cismar que é o Lobisomem, apagar a luz e ouvir vozes, comer um quilo de nozes, acender a luz e a vista doer, pisar descalço na ponta de um talher e doer, querer doar pro Médicos sem Fronteiras mas à noite inteira o note trava; cochilar e sonhar que bóia em lava, acordar e cismar que a bunda tá queimada, cochilar de novo e sonhar que Torquemada lhe mostra um ferro em brasa. Só tem um alento, um unguento, uma panaceia, alívio pra cefaleia que é a noite longa e sádica feito um nazista de suástica: o desejo de escrever, de extravasar, de regurgitar toda pergunta sem resposta, o que não basta porque se posta, toda a incerteza, toda estranha beleza das entranhas, das sanhas, das manhas, pra que as manhãs ressurjam e me encontrem vivo, mesmo sem nobres motivos. Toda noite é um susto e tem um custo, mas me safo no desabafo, na escrevinhação que tem o dom de fazer um furo no escuro e vislumbrar no outro lado que ainda há dados por rolar e que o dia é sempre uma volta ao lar.





Nenhum comentário:

Postar um comentário