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sexta-feira, 15 de junho de 2018

Em branco



Fecundação


Uma página ou tela em branco é uma tábula rasa, fundação de casa, sem solavancos, em paz, em silêncio, quieta. Fina esteta, ela convida o que tem vida a se tatuar nela e abrir janelas pro mundo o poema oriundo do fundo da alma do poeta e a página gesta em festa verso a verso o que estava submerso no inconsciente que como falo potente fecunda a página-óvulo até que, pronto, o poema vem à luz e ao encontro de quem o lerá na esquina na piscina ou no sofá e se comoverá e nunca mais será como antes, depois do poema tocante e isso graças a página vazia, aparentemente fria, esperando a epifania do autor, ato de amor entre o vazio e o cio que resulta na prenhez , na gravidez das palavras que se incorporam e crescem até que o parto acontece e o encantamento se dá.


Útero

Cúmplice, vívida página
Tácita, íntima, prática
Vítima, cínica tática
Pálida, anímica, mágica

Trêmula, tímida, próxima
Ínfima lâmina, dádiva
Física, lírica fábrica
Quântica, rústica, sólida

Lúcida lâmpada anárquica
Sôfrego, cravo-te símbolos
Risco-te, tornas-te gráfica

Rútila pétala, vínculo
Cálida, incitas-me ávida
Página, faço-te grávida





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