Poetar pode
parecer pra muitos um jardim de rosas, um alegre e sereno versejar onde tudo
esplende e recende a incenso ao som da lira. Nem sempre é assim. O poeta, não
raro, briga com seu texto, em última instância consigo mesmo e se confronta com
seus crivos estéticos, políticos, filosóficos. Ele esgrima - haja ou não rima –
as palavras, oscila temáticas, joga no mar semântico como um náufrago sem boia, transborda temendo os paroxismos, se contém, temendo cercear seu espírito de
livre criador.
E entre estrofes, métricas, forma e fundo, se angustia,
devaneia, cai em torpor, fala sozinho, obcecado, esculpindo, lixando, zeloso
de que o texto não se rebele e prossiga sozinho, abandonando o autor.
Poetar é
imaginar, desejar, gestar e por fim parir, nem sempre rápido, e quase nunca sem
riscos. Inspiração e transpiração. Quem vê o poema pronto nem desconfia o
quanto ele fez seu agora ex-dono, tão tonto.
De ré
Na escuridão um
tema um embrião de poema te ronda em ondas de açoite e no pernoite na tua mente
nessa noite quente sem brisa te avisa que se quer perfeito mas não tem jeito
você não dá conta a cabeça nunca pronta pra perfeição então o poema quebra
algemas se requebra em dilemas vai nascendo a fórceps step by step antes que se
estrepe prematuro e no escuro berra qual Macunaíma recoberto de rimas e
metafórica placenta solta fogo pelas ventas faz que inventa sentidos de
silêncio e ruídos na aurora vem pra fora conhecer o mundo e seu furor
desavisado nesse jogo de dados com pavor deseja fundo escapulir desse cenário
tão vário voltar a ser só esboço do sonho desse moço da fugidia alquimia da
razão emoção inspiração perfeição que ele queria e o poema problema disse não
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