O
artista é, antes de mais nada, um cidadão, com suas consequentes interações e
implicações. E como cidadão que é, repercute e reverbera fatos, sentimentos,
sonhos, perplexidades, alegrias e tristezas, sombra e luz, desesperos e
alentos.
Artistas e não artistas, dicotomicamente são
diferentes e semelhantes. O artista e a arte trafegam entre limites. Não fosse
assim, que impacto a arte teria, ou seja, o que ela traria de contribuição para
o pensar e sentir a vida e o mundo? Cabe ao artista não só exaltar as belezas,
de certa forma as confirmando, mas também provocar, tirar as pessoas de sua
zona de conforto, inspirá-las. Sem este mínimo de atrevimento, a arte se
reduziria a mero acessório e enfeite.
Mas
dar livre vazão a essas ousadias é salvo-conduto para um proselitismo
maniqueísta, por exemplo? Arte e artista são livres a ponto de propagar ódio,
violência, preconceito e discriminação?
Particularmente penso que causa e efeito não
devem ser confundidos. O veículo empregado não tem “culpa” e qualquer um pode se
escudar por trás da arte para disseminar suas ideias e ideais de ódio e
violência, assim como pode optar pelo simples discurso direto sem veleidades
pseudoartísticas.
O
artista mostra saúde quando não se omite, quando toma partido e não se
apresenta indiferente a causas e questões particulares e globais. Mas a arte
agradece quando ainda assim não faz juízos de valor. Garcia Lorca e Maiacovski
são exemplos lapidares disso.
O
artista é um ser social e quem vai estabelecer e mensurar limites à sua
expressão, além da sua própria consciência, serão seus pares e fruidores, seja
pelo aplauso e corroboração, seja pela rejeição e repúdio.
Aí
se abre uma delicada discussão sobre a legitimidade (ou sua negação) da censura
e a liberdade de expressão.
Noturno
Um sino sem seu badalo
balança em total silêncio
Quisera ser um cavalo
Ele não pensa, eu penso
Um vento sopra de lado
Qual caranguejo evasivo
Carregando o mapa errado
Tesouro em vulcão ativo
Rastros na areia desfeitos
Deuses do mar são suspeitos
A lua desvia o olhar
Num centauro convertido
Mando flechas num sentido
Que voltam pra me alvejar
Sua prosa versa sobre liberdade de expressão sem incorrer nos clichês usados para tratar o tema e sem deixar de pontuar questões importantes. Faz isso de forma clara e num texto prazeroso de se ler. Um viva à imagem escolhida!
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