A poesia segue que trajetos? Quais são seus
cânones, seus limites e fronteiras?
Ela é, como alguns (ou muitos) pensam, o
limbo da criação artística ou mesmo apenas na Literatura? A prima pobre? O
reduto da pieguice e do banal literário? Não é preconceito excluir o singular,
o profundo e o brilhante desse “ramo” da Literatura?
E os poetas? Uns bobos alegres que se
deslumbram até com folhas secas caindo de uma árvore? Uns alienados que só veem
tudo bonito e esperançoso? Poetas não são ou podem ser também pessimistas e
amargos ao menos eventualmente?
Poesia é âmbito e território exclusivo do
lírico? Do belo? Ou tbm do rascante, sombrio e frio?
Poesia serve a propósitos? Mudou ou mudará
o mundo?
O inesquecível e sagaz Paulo Leminski
gravou um vídeo, encontrável no Youtube, dizendo basicamente que a poesia é um
inutensílio. Ou seja, que não deveríamos atribuir a ela o solene papel de nos
ensinar lições ou nos redimir. Deixemos que o bravo “Lema” nos enriqueça com
sua verve inquieta: http://www.youtube.com/watch?v=T-iCzSsOZy4
Vladimir Maiakovski e Federico Garcia Lorca
fizeram poesia engajada, política, libelos contra a opressão. A publicidade
toma emprestado da Poesia a linguagem poética com fins comerciais e de
propaganda institucional. Faz-se poesia pra desabafar, pra celebrar, pra
cortejar, pra exaltar, pra mil alvos, mas também – e ainda bem – pra nenhum
propósito que pelo menos seja pra descrever, discorrer, refletir, especular, sobre
as coisas, a vida, a beleza, o sofrimento, a Natureza, os mistérios, enfim,
sobre tudo, só que com o viés singular da palavra sucinta, da frase enxuta
chamada verso, com sua sonoridade e ritmo tão próprios, ou seja, poesia pela
poesia, sem que ela precise carregar o fardo do utilitarismo. Poesia pela
poesia, que provoca narizes torcidos dos que teimam em querer lhe atribuir
funções e nobres lemas, o que nunca foi o caso do nosso querido Leminski, "Lema” pros “íntimos”.
Mas, voltando ao início desse texto: “A poesia segue que trajetos? Quais são seus
cânones, seus limites e fronteiras?”
Como classificar escritas singularíssimas
como a de um Guimarães Rosa? Que parâmetros temos? E quais são certeiros? A
prosa (que já é um rótulo) de Clarice Lispector é repleta de poesia, não porque
visualizemos versos, ritmos ou rimas em seus textos, mas pelo modo como ela
manuseia palavras e expressões, sua escrita exala poesia. Por outro lado temos
poesia com laivos prosescos em inúmeros autores contemporâneos.
Paradigmas estão sendo constantemente
quebrados e criados, portanto talvez possamos dizer que o poético perpassa a
Literatura, num microcosmo desse trespassar do poético na própria vida.
"[...] a arte é inútil porque não foi feita para instruir ou motivar ações. Sua natureza seria soberbamente estéril[...]" Esta foi a resposta de Oscar Wilde ao espalhar por meio de seu livro O retrato de Dorian Gray, a ideia de que a arte é inutil.
ResponderExcluirDiria que a arte da literatura se faz pela necessidade do escritor em fazer o papel criar vida. Não tem pretensão, mas atinge, não tem intenção, mas mexe, bagunça. Não é o intensional para o outro, mas sim a criação que grita desejando sair para o mundo, para o mundo. Ela não tem utilidade comercial, ela não nasce para render moedas, é neste sentido que a arte é inutil.
Coloco aqui uma pequenina reunião de citações, que postei em meu blog:
"Se o mundo fosse claro, a arte não existiria." Albert Camus
"Poeta é aquele que, sob o que é nomeado, espreita constantemente as diferenças, redescobrindo o parentesco oculto entre as coisas, as semelhanças esparsas. ' Michel Foucault (A ordem das coisas)
"A estética é para o artista o que a ornitologia é para os pássaros." Barnett Newman
"O teatro acontece o tempo todo, onde quer que estejamos, e a arte apenas torna mais fácil persuadirmo-nos disso." John Cage
"Temos a arte para que a verdade não nos aniquile." Nietzsche
"Minha peça favorita de musica é aquela que podemos ouvir o tempo todo quando estamos calados." John Cage
James Joyce formulou uma teoria da arte que definia a expressão artística como "prisão estética". A seu ver, a arte não tem finalidade; ela não existe para ensinar nem motivar. No sentido mais puro, ela simplesmente aprisiona ritmos e relações, mergulhando-nos no momento e produzindo um efeito não muito diferente do safanão ou do grito do mestre zen.
"Fujamos da racionalidade como de uma casca horrivel e, quais frutos aromaticos, lancemo-nos as fauce imensamente distorcidas do vento! Alcemo-nos ao desconhecido, não por desespero, mas para cavar os poços profundos do absurdo." Marinetti
A arte tem o poder de transformação. Devolvem-nos o uso dos sentidos abrindo nossos olhos e ouvidos para outra realidade.
Parabéns por mais este texto!
abç
Carla - Fructus Noctivagus