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quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Clichê: fast food poético


Certos temas, para a poesia, acabaram se tornando “perigosos”. Por terem já sido muito abordados, no rumo do esgotamento e precisando de reinvenção. O amor talvez seja dentre todos o mais visitado, Quem não quer falar de e do amor? E o que ainda não foi dito sobre o amor? Tem?





Temos um dilema? O amor seria tema importante o suficiente para legitimar todo e qualquer “mais do mesmo”? Ou valorizar o tema passaria justo pelo oposto, ou seja, buscar modos originais de exercitá-lo, com releituras?

Mas o amor não é único tema recorrente na poesia. Tristeza, solidão, a Natureza, a vida, as estrelas, a lua, enfim, são assuntos muito frequentados pelos poetas e na esteira dessa assiduidade vem a confusão entre o simples e o banal, o despojado e o previsível, o singelo e o clichê.

Mestre Manoel de Barros é um luminar exemplo de uma poética da simplicidade aliada a imagens inesperadas e nada banais e que resultam encantadoras.

A palavra clichê (já até virou um clichê usar e abusar dela) vem do jargão das gráficas e jornais e é um molde com tipos, letras. Seu uso repetitivo levou a essa expressão, que significa lugar comum. 

Então a tentação de recorrer ao lugar comum, ao clichê, na poesia está sempre latente, É como se seu emprego colocasse o poeta numa situação de conforto, que não detivesse o fluxo livre da sua emoção com elaborações racionais em busca da imagem e ideia não pronta.

Uma metáfora inesperada, uma palavra pouco usual, outra deslocada do seu sentido habitual, são alguns recursos que podem ser utilizados para se fugir dos clichês, da mesmice do já visto e já dito. Preparar o prato no fogão, sem apelar pra comida comprada congelada. Fugir do pouco nutritivo e pouco saboroso clichê, o fast food poético, comprado pronto.



Faces 

Viver
Trânsito e transe
Âmbito e vácuo
Prazer e dor
Fagulha e breu

Dizer
Ventos e espelhos
Fontes e flechas
Cernes tangências
Medos coragens

De ser
Âncora e bolha
Cúmulo e grota
Lampejo e túnel
Pausa e tropel



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