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quinta-feira, 24 de julho de 2014

A densa dança do intangível


A vida, assim como a poesia, que a reflete, embora também a ilumine com amostras suprarreais literárias, tem eternos temas, recorrentes, reandantes, redundantes e depois. O campeão de audiência sem dúvida é o amor e/ou a falta dele. Cantar em verso as venturas e desventuras do amor é o assunto mais querido dos poetas.


E cá pra nós, recorrente ou não, batido ou não, é um tema irresistível, diria até que inevitável.  Por outro lado fico me perguntando: mas por isso então precisamos ser tão repetitivos nessas recorrências? Não precisamos fugir do tema amor só porque ele está batido. Não sou dos que concordam com a afirmação do talentoso diretor de cinema Peter Bogdanovich de que os bons filmes já foram feitos e amplio esse espectro pra arte em geral. O fato de existirem tantos poemas cujo tema (e rima) é o amor, não nos impede, ao contrário, até nos instiga a tentar, a ousar e inventar novas abordagens, novos enfoques.

Então tal questão não deve nos intimidar. Falemos do amor poeticamente sem que caiamos no previsível e apenas mais do mesmo. Tentei isso em dois textos recentes, quase um desdobramento um do outro, onde quero dizer ludicamente: o amor e o sexo não são aqueles rótulos redutores, do texto do Jabor, que depois virou canção da Rita Lee: aquelas separações do corpo e da cabeça. Daí botei as coisas não densas, intangíveis, tipo os sentimentos, na roda do denso e do corpóreo. Tudo isso é uno, não dá pra segmentar, sob pena de fragmentar, diluir a vivência e o sentido. Nosso ser é um amálgama de mente e corpo. Sempre me opus, até por dever de ofício como terapeuta corporal, a essas cisões, esses esquematismos de corpo pr’um lado e cabeça pro outro.

É meio como dizer: erotismo não é só genitália, corpo e rebolar com musiquinha climática ao fundo. Coisas não físicas, como o amor, talvez excitem muito mais e sejam mesmo a fonte do melhor amor carnal.

Uma amiga uma vez me disse que dificilmente o homem faz tais considerações por ser basicamente imagético.

Bem, pode até ser, embora eu ainda ache que isso é mais um clichê que, como tal, generaliza e desconsidera cada caso. Mas eu enxergo meio mal, não sou tão imagético do ponto de vista dos olhos, sou imagético pra imaginar, criar imagens e não pra voyeurizar mulheres e babar na gravata por isso.

E foi motivado a enfocar o tema do amor desconstruindo esse conceito de "amor é isso, sexo é aquilo", que nasceram esses dois poemas:


Condensação

Muito me comove a libido
quando você, que me entende
atende os meus pedidos
e isso faz urgente
que o meu afeto
adentre o vão predileto
no fundo do teu carinho
bem apertadinho

E sem pedir licença
te cravo a minha presença
na tua febril saudade
de jamais ter saciedade
Tua aura sobe as paredes
quanto mais me bebe, mais sede
Geme a alma no estertor
O amor se adensa e faz amor



Foz

A alegria
logo se arrepia
quando o deleite
faz com que ela se deite

A comunhão
dispara o coração
se a cumplicidade
se mostra uma verdade

A confiança
sorri feito criança
quando o afeto
revela-se concreto

O amor se adensa em gozo
Sentimento é saboroso
O corpo é a foz farta e urgente
do tesão da alma da gente




5 comentários:

  1. Falar de amor sempre!
    Lírico,erótico, platônico, sofrido, feliz...
    Inesgotável fonte de caça palavras, troca verbetes, reticências e exclamações!
    Felizes os poetas e de nós que os saboreamos.
    Parabéns Jorge Ricardo Dias, os poemas acima fazem literalmente valer a pena!

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  2. Valeu, Emilce! Espero que vc continue apreciando!

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  3. Parabéns por tão digna postagem! Sintonia perfeita entre prosa, poema e imagem.
    Se o amor é inesgotável para se sentir, porque não o seria para a poesia? Tua magnífica e abençoada inspiração te rendeu belos poemas. Belo na essência (sim, há beleza no erotismo) e belo na construção. E é claro, o amor é o melhor afrodisíaco!

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  4. Concordo com tudo o que vc afirmou e só me resta agradecer a tantas e tão empáticas opiniões.

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