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quinta-feira, 3 de julho de 2014

Poetizando a prosa


Dentre as várias formas de poesia, uma tem me agradado exercitar e justamente uma que se situa na tênue e imprecisa fronteira entre a poesia na sua concepção mais “genuína” e a prosa e que costuma ser chamada de prosa poética.

Cabe aqui ressaltar um detalhe: poesia é linguagem de supressão, ou seja, seu  âmbito de concisão, de economia de meios, de certo minimalismo da expressão escrita a distingue da prosa, que é mais extensiva, descritiva e sem a mesma preocupação com o ritmo e a sonoridade das palavras, frases, parágrafos.

A diferença entre a boa prosa poética e a má poesia “prosesca”, que por inexperiência ou mesmo inépcia do autor, não busca a linguagem concisa e supressora (não se pode ter pena de enxugar, cortar palavras e até mesmo versos inteiros quando se poeta) é que na prosa poética o alvo deixa de ser a economia, para mirar na fluidez. Vejo a prosa poética como um rio que em sua correnteza e cheio de afluentes, viaja vertiginosamente até o mar de ondas quebrando em vaivém da poesia.

Manoel de Barros, um de meus poetas prediletos, no seu modo livre de poetar, faz belíssima prosa poética. Em geral seus textos não possuem a verticalidade visual característica da poesia. O hibridismo da linguagem da prosa poética traz essa riqueza: Manoel de Barros a faz e é sempre considerado – e legitimamente – um poeta e Guimarães Rosa escreveu romances de linguagem inovadora, prosa repleta de poesia, que o tornou um inquestionável romancista.

Então aí vai um humilde produto da minha ainda incipiente prosa poética...


Encantador encantado  

                           
Encantador de serpentes de repente me deparo com uma naja sem veneno e encantado tomado de um fascínio pleno pela alma que traja corpo esguio e preciso perco o juízo que me resta e consinto que haja festa em mim arlequim despertado pela serpentina colombina menina dos meus olhos arregalados e alagados por essa comoção do inesperado como são os eventos sem aviso tal qual esse solar sorriso esse solstício com sabor e saber de eterno início e vício benigno que tatua em mim o signo da bem aventurança que canta e dança no meu coração e a naja encanta o que era pra encantá-la e o encantado aqui sorri e se cala






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