Dentre as várias formas de poesia, uma tem me agradado
exercitar e justamente uma que se situa na tênue e imprecisa fronteira entre a
poesia na sua concepção mais “genuína” e a prosa e que costuma ser chamada de
prosa poética.
Cabe aqui ressaltar um detalhe: poesia é linguagem de
supressão, ou seja, seu âmbito de
concisão, de economia de meios, de certo minimalismo da expressão escrita a
distingue da prosa, que é mais extensiva, descritiva e sem a mesma preocupação
com o ritmo e a sonoridade das palavras, frases, parágrafos.
A diferença entre a boa prosa poética e a má poesia “prosesca”,
que por inexperiência ou mesmo inépcia do autor, não busca a linguagem concisa
e supressora (não se pode ter pena de enxugar, cortar palavras e até mesmo
versos inteiros quando se poeta) é que na prosa poética o alvo deixa de ser a
economia, para mirar na fluidez. Vejo a prosa poética como um rio que em sua
correnteza e cheio de afluentes, viaja vertiginosamente até o mar de ondas
quebrando em vaivém da poesia.
Manoel de Barros, um de meus poetas prediletos, no seu modo
livre de poetar, faz belíssima prosa poética. Em geral seus textos não possuem
a verticalidade visual característica da poesia. O hibridismo da linguagem da
prosa poética traz essa riqueza: Manoel de Barros a faz e é sempre considerado –
e legitimamente – um poeta e Guimarães Rosa escreveu romances de linguagem
inovadora, prosa repleta de poesia, que o tornou um inquestionável romancista.
Então aí vai um humilde produto da minha ainda incipiente
prosa poética...
Encantador
encantado
Encantador
de serpentes de repente me deparo com uma naja sem veneno e encantado tomado de
um fascínio pleno pela alma que traja corpo esguio e preciso perco o juízo que
me resta e consinto que haja festa em mim arlequim despertado pela serpentina colombina
menina dos meus olhos arregalados e alagados por essa comoção do inesperado
como são os eventos sem aviso tal qual esse solar sorriso esse solstício com
sabor e saber de eterno início e vício benigno que tatua em mim o signo da bem
aventurança que canta e dança no meu coração e a naja encanta o que era pra
encantá-la e o encantado aqui sorri e se cala
Muito Bonita, encantadora
ResponderExcluirEncantador, lindo, Parabéns Poeta.
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