Somos indivíduos e não podemos negar peremptoriamente essa
nossa natureza em nome de idealizações sobre nossa elevação. Um dia seremos de
novo todos um, mas isso demora e por enquanto somos não unos mas unidades.
Temos um ego.
Mas não somos o umbigo do mundo, nem o sol com planetas e
satélites girando em torno. É claro que o que sentimos, percebemos, pensamos e
vivenciamos, passa necessariamente pelo crivo da nossa subjetividade, mas como
poetas, nos cabe também exercitar o discurso na terceira pessoa, deslocar o
foco da escrita para o outro, não só e sempre para o nosso eu.
Nessa nossa condição de indivíduos, a tentação de se
expressar na primeira pessoa é permanente. É verdade que mesmo o discurso na
terceira pessoa será sempre “contaminado” pela nossa cosmogonia, mas narrar uma
história, criar um personagem, deslocar o foco para o(s) outro(s) pode ter o
saudável resultado de textos onde nossa individualidade fica impressa de forma
mais sutil, como, por exemplo, no nosso estilo.
Poemas na primeira pessoa estão presentes na obra dos
grandes. Não há nada de errado nisso. Mas certamente, passam longe de se restringir
a isso. Porque a vida, seus mistérios, agruras e maravilhas, e consequentemente
os poemas, não se resumem ao Eu isso, eu aquilo, eu assim, eu assado...
A palavra que define isso é ensimesmado: o indivíduo que pensa em si mesmo como que só no Universo, ou pelo menos o centro desse Universo.
A palavra que define isso é ensimesmado: o indivíduo que pensa em si mesmo como que só no Universo, ou pelo menos o centro desse Universo.
Olhemos para dentro, mas também para fora.