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terça-feira, 6 de março de 2012

A tautologia* do tato

*consiste na repetição de uma idéia, de maneira viciada, com palavras diferentes, mas com o mesmo sentido.
                                                                                   
                                                                                    
A pedidos (epa!), vou falar agora sobre o tato, cujo veículo é o toque. Toc, toc...olha só que sugestivo...Delicadas batidas de chegar e ficar perto, de associar peles, poros, pelos, rostos, púbis, costas, peitos, barrigas, pés e todo aquele etcoetera de praxe.
O toque é regressivo à época e ao estado de bebê. À fase oral e pré-palavra. O adulto vive de fato quase privado do toque por tabus sociais.
Tocar pode ser leve, pesado, doce, áspero, protetor, doador, desagradável, prazeroso, terapêutico, sociável, erótico, lúdico.
Tocar e ouvir supre o ver, do qual o cego é privado.
Apesar de desprovida do tato, a Arte toca. Quase tudo te toca. A aurora toca, a tarde toca, frio arrepia a pele, sol a aquece, cor toca, raiz, caule, folha, flor e fruto, terra, água, fogo e ar, voz toca, batucada toca e sacode o corpo. O frevo, que loucura, faz pular, gera euforia, toca!
O toque é coisa do espírito que calado se expressa. Pode estar escuro, pode-se ser cego e surdo ou até tetraplégico e lá está o toque, a carícia que sorri, o aperto que deseja, o calor que cura, a raiva ou a severidade que belisca ou esbofeteia, o abraço que protege , recebe, pacifica, apazigua e que iguala a todos, pobres e ricos, feios e belos, tolos e sábios, fracos e fortes.
Vale frisar que é o cérebro, este dispositivo veloz, eficaz, quase perfeito, que viabiliza, registra e processa o tato.
Até aqui foi possível abordar os diversos aspectos básicos (até certos fúteis) do tato. Só que para prosseguir e preservar a clareza e teor didático deste texto, eu teria de abdicar das palavras de estrita oralidade e aí a coisa perderia a pouca graça (perdoe o cacófato) que, ao sabor do desespero de causa, ousa cativar o crítico leitor, quiçá adepto do autoflagelo a chegar até aqui. Vou até apelar para o recurso de fachada erudita, que visa (aceito credicard) ao desfecho ileso:
Alea jacta est!
Certo, o editor exige que eu traduza, para evitar parecer elitista:
A sorte está l...opa...palavra proibida. Atirada? Proposta? Aberta? Ah, desisto. É lançada mesmo. Eta humanidade nasal! Até nossa língua mãe é nasal, se chama Latim! Quem sabe alguma raça de ETs, mais evoluída e desprovida de apêndices nasais só use palavras orais, com rimas ou sem. Mas nesse caso então, não se chamaria rima. Talvez rifa, ripa, rita...

                                                                                                             

4 comentários:

  1. Maravilha de texto! Impressionante como o tato é importante mesmo. Sem ele, somos matéria morta apenas volitando por esse planeta. Mas você consegue traduzir o sentido do tato brincando com as palavras de maneira magnífica. Senti-me tocada!
    Super beijo

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  2. Ia dizer que ter te tocado foi tocante, mas aí estaria usando uma palavra nasal. Logo, te digo que valeu ter te tocado. E obrigado pelos elogios.

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  3. Sou adepta do toque... Sempre gostei. Tanto do toque físico como do da alma... Dos toques bons, suaves, macios, saudosos e terapêuticos!!!!... Adorei o texto!!! Parabéns Ricardo!!!!

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  4. Não é à toa que na nossa Língua, nos apropriamos do verbo tocar na música. Tocar um instrumento...
    Obrigado, Raquel.

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