Uma leitura mais apressada do soneto que se
segue, poderia levar ao entendimento de que se trata de um poema contra o amor.
Mas na verdade é sobre a ditadura que nos impõe
sermos felizes.
Tudo o que nos é imposto, em primeira ou última
instância, nos violenta.
A gente sempre se depara com o quão esmagador
isso é pra muita gente.
O glamour, os sorrisos facebookianos. São
sintomas.
Precisamos passar a imagem de que estamos sempre
esfuziantemente ótimos e a mil por hora.
Ser feliz é um dever, portanto temos pelo menos
que aparentar.
Quem escapa desse aprisionamento é visto como
depressivo, pessimista e até misógino.
É proibido não ser feliz o tempo todo.
Mas Caetano reverbera, mais sábio: É proibido
proibir.
Ditadura
Noite
e dia, sempre cismo
O
ideal de ser feliz
Da
flor ao caule e raiz
É um
simples escapismo
Todo
plano tem sua meta
Toda
meta, um valor
Apostar
sempre no amor
É
missão de grande atleta
Ser
feliz são tentativas
Mar
repleto de águas vivas
Emergir
sem se queimar
Felicidade
que esmaga
Cada
fôlego é uma saga
Peixe
se afoga no ar
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