Alguns temas, objetos, situações, são recorrentes na minha
escrita. Chamo essas quase fixações de alumbramentos (1. Ato ou efeito de
alumbrar; iluminar; 2. Estado de quem se maravilha; deslumbramento; 3.
Inspiração, arrebatamento, revelação).
Uns são concretos, a maioria, mas mesmo sendo objetos
palpáveis, é claro que são metafóricos. Não importa a forma poética, se fixa ou
livre, lá estão, assíduos, o espelho, o horizonte, os recomeços, carrosséis,
palhaços, bumerangues, barcos, o mar, a própria poesia, as estrelas, os
paradoxos humanos, o lado lúdico da vida, o tempo, o presente.
Certamente não vou me lembrar de todos, mas esses talvez
sejam os mais frequentes e me encorajam a revisitá-los e com isso sobrepujar o
receio de ser repetitivo. Como sou dos que pensam que a poesia é a negação do
banal e que a vida cotidiana por suas repetições reverbera as banalidades, dou
vazão a essas obstinações temáticas não sem temer que a originalidade me
escape.
É interessante constatar que a maioria desses temas e
objetos remetem a movimento e movimento remete a vida, ou seja, até no ato de
digitar ou mesmo manuscrever os poemas, o movimento está presente. Vida
refletida na palavra, seu som e no que ela evoca. Vida real misturada com
imaginação. Da imaginação do poeta diretamente pra imaginação do leitor.
O poeta erige seu microcosmo com suas obsessões, delírios,
esperanças, desencantos, euforias, perguntas sem resposta (ao poeta cabe muito
mais indagar que responder), rir inclusive de si mesmo, brincar de pegar o
leitor de surpresa. Os temas recorrentes são visitas nem sempre convidadas, simultaneamente
paisagem, trilha sonora e protagonista de filmes cuja imagem, som e movimento
são “só” subjacentes às palavras bordadas no tecido do poema.
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