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sábado, 17 de janeiro de 2015

Duas faces, uma só moeda

Não costumamos simpatizar e aprovar ladrões,
fora-da-lei em geral. Nossa civilização, salvo em raras culturas que fogem a essa regra, se apoia numa visão polarizada das coisas. Uma das principais polarizações que aparentemente servem pra agregar sentido ao viver é Bem versus Mal. Nossa tendência a uma visão rasa e simplista nos leva a acreditar que esses são extremos excludentes um do outro. Ou seja, se você não é do Bem, fatalmente será do Mal.

Sem dúvida é um conceito e visão que menospreza nossa complexidade humana. Não somos plasmados só em coerências, retidão e estabilidade. A arte talvez nos desvele isso da forma como melhor assimilamos: pela emoção.
Amamos, odiamos, damos vexame, invejamos, nos encantamos, temos fúria, apatia, somos infantis e matusalêmicos. Tudo pelo simples fato de que somos humanos.

Outro dia assisti um filme, um thriller de suspense, onde a narrativa levava os espectadores a torcer pro vilão. O cinema, assim como a Literatura, tem esse dom de nos dirigir, de certa forma nos manipular a ter empatia pelo que está próximo e de certa forma nos identificamos, ainda que de forma inconsciente, com o personagem que transgride.

É quando nossa visão maniqueísta do Bem contra o Mal cai por terra. O mito dos que são sempre só bons e dos que são sempre só maus se dilui, sai de cena, pelo menos até que o filme acabe e as luzes se acendam, ou a última página do romance seja lida e o livro fechado, quando então voltamos ao nosso arraigado padrão do herói derrotando o vilão e nos redimindo.

E a vida segue com suas máscaras de coerência idealizada, de onde vazam nossas contradições, nossos medos e angústias irracionais e até mesmo nossa meninice lúdica aprisionada em corpo adulto pela nossa cultura do contermo-nos.


Dual

Quando amo e quando odeio
Coronárias e neurônios
Meio anjo e demônio
Me revelo ou me refreio

Sou vilão, herói, refém
Sou cruel, maniqueísta
Solidário, altruísta
Sou do Mal ou sou do Bem?

Sou xamã, pagão, judeu
Apostólico romano
Rezo um terço e mato Deus

No vitral, santo profano
Hóstia em boca de ateu
Dualidade é ser humano





3 comentários:

  1. Esse pensamento vem se atualizando com mais frequência....Histórias,contos,mitos ajudou-nos a compor nossa visão e conduta sobre o mundo.Contudo pelo fato da nossa idade perante ao cosmo ser similar a de a idade de um pré-adolescente,necessitamos de história,para criar,amar,respeitar,brigar...enfim...
    Obstante a esse fato,tenho a percepção que a grande maioria das pessoas estão despreparadas para esse excesso de franqueza que nos compõe logo compondo a Dualidade.Assim,sabemos que somos novos perante a vida,mas um dia aprenderemos todos a ler o céu..

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  2. Quanto mais te leio...mais eu gosto!

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  3. Obrigado, Thomas Reis. Obrigado, Verinha Portella! E voltem sempre!

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