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sábado, 24 de janeiro de 2015

Poemúsica

A música emula a vida, ao pulsar. Canções de ritmo mais marcante e marcado e constante ecoam e entram em ressonância com as batidas do coração e nos fazem querer mexer o corpo, bater palmas ritmadamente, balançar os braços, pular, até.
Mesmo as mais plácidas traduzem nossos momentos mais meditativos e contemplativos e suspiram, com notas prolongadas e timbres aveludados. Do Carnaval, rock e funk às valsas, choros e Canto Gregoriano.

Assim também é a poesia. Ela também tem seus pulsos, sons, musicalidade. Os compositores que não escrevem poesia ou letras de música sabem disso e valorizam muito um poema ou letra com o que se chama de boa rítmica e repletos de palavras com boa sonoridade e musicalidade. Grande parte das melhores canções já feitas são produto do casamento entre letras que além de conteúdo e belas imagens poéticas, são dotadas de rica sonoridade, com melodias, harmonias e ritmos que, além de inspirados, traduzem e valorizam musicalmente esses textos.

Recorri à poesia para reverenciar outra das minhas paixões: a música. Procurei urdir versos que, além de criar imagens descritivas da música, passassem isso também de uma forma mais sutil, com a rítmica, a métrica em redondilha maior e palavras sonoras e com isso, o ato de escrever esse soneto me trouxe a sensação de estar compondo música. Chamei-o de Cantochão, que é o canto gregoriano, monofônico, entoado nos mosteiros e que é a base da música ocidental.

Uma música que nos toca, mesmo que não tenha palavras, pode ser pura poesia. E um poema tocante, mesmo sem notas musicais, pode soar muito musical. Já pensaram em que comumente falamos em “tocar” um instrumento ou que uma música está “tocando”? Se for uma canção então, letra e música, ela toca duplamente.


                                                                               

Cantochão



Rendo-me a ti, fluidez
Não me destrói teu poder
Só me dilata o prazer
que leva e traz lucidez

Amo-te, lírica ou densa
Velhas cantigas de roda
Teus lundus fora de moda
És concretude e presença

Índio dançando Ravel
Callas cantando Gardel
Tímpanos do coração

Música, és musa de mim
Nunca ouses ter um fim
Sou teu monge em cantochão



2 comentários:

  1. Belo soneto!!!!!
    _/'\_ Aplausossssss!!!!!

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  2. Jorge Ricardo, você reverenciou com grande maestria. Parabéns!

    " Musa de mim/ nunca ouses ter um fim/ sou teu monge em cantochão" Bravíssimo!

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