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quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

De prima

Me perguntaram se ainda existe o amor à primeira vista. Titubeei um pouco antes de responder, porque uma parte de mim quis responder que sim, provavelmente instigado pelo meu hemisfério cerebral dionisíaco e a outra parte, mais apolínea, quis que eu dissesse que não existe. Como não sou dos que nessas horas respondem “sim...e não”, respondi que sim. Porque existe a ilusão disso. O que existe é o que de fato existe e não o que é “real”, porque até o real tem diferentes entendimentos, percepções, interpretações, versões.


Sabemos que amor à primeira vista é ilusão porque é encantamento, é agudo, é impactante e por isso mesmo quase sempre tem efeitos passageiros. Mas esse impacto só existe por encontrar em nós o terreno fértil pra isso, então é fenômeno que não se dá “do lado de fora”, não é como vento ou raio ou chama de fogueira, que está fora e nossos olhos refletem, nossos pelos esvoaçam, é encaixe em padrão que carregamos introjetado dos “quem” que nos despertam e disparam reações químicas no cérebro e, em consequência também no nosso corpo. Então os fatos nos mostram a ilusão de longo prazo que isso é. Nosso objeto de desejo pode estar – e está – do lado de fora da gente, mas no fundo nos enamoramos mais da ideia do que do objeto em si, essa ideia do encaixe, de mão e luva, o número certo que nos veste e calça. Somos Narciso se enamorando de seu reflexo no espelho d’água de um lago, sem saber que era ele mesmo a fonte do seu encantamento.

Existe também a chamada forte simpatia e essa costuma ser menos solitária, por ser mais comumente recíproca e não unilateral como o amor á primeira vista. No Rio existe um bloco de carnaval famoso chamado Simpatia é quase amor...

Mas mesmo a simpatia vem com uma relativa carga de subjetiva idealização, não tão intensa e dramática como o amor. E então, o que nomeamos como simpatia, na prática se deixa contaminar por projeções e idealizações nossas. Você pensa que identifica naquele teu "igual" uma espécie de híbrido de espelho teu e completude tua do que você não tem, mas aspira a ter.

Mas é uma ilusão danada de boa de se viver, infinita enquantro dura, macia enquanto não endurece, fruta que se arranca do pé e não a que se espera cair de madura pra saborear.


3 comentários:

  1. Fantastico.Vc é um sabio. Adorei...rsrsr

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  2. Ah, sou só um sabiá que aprendeu a se expressar no linguajar dos humanos, Cassi. Obrigado!

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  3. Sua poesia flui facilmente e é bem-ritmada (como uma poesia deve ser). Você tem estilo e agradou em cheio.

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