Pra muita gente, a poesia é o território grave e solene da seriedade,
mesmo para leitores habituais de poesia. É meio como se um texto poético só
tivesse legitimidade e nobreza no sério, no dramático, no compenetrado, no
profundo e circunspecto, sisudo.
Claro que não tenho nada contra nada disso; eu mesmo recorro a esses
vieses em meus textos, mas sou avesso a receitas, tanto na poesia quanto na
vida, com exceção da culinária, portanto não me furto a canalizar quando em
vez, ao poetar, minha veia humorística.
Não sou dos que pensam que o humor deve se exilar nas crônicas, nos
sketches de comediantes no teatro e na tv, nos repentes nordestinos (que considero
tão poesia quanto a dos poetas consagrados), ou nos textos publicitários. O
território da poesia é vasto o bastante para abrigar várias nuances de
significante e significado, variados enfoques e temáticas. E a do humor não faz
a poesia ser menor. É perfeitamente factível a boa poesia com laivos cômicos,
basta ter a medida, ter o senso dessa medida.
Na verdade, o humor na poesia é exercitado também pelos grandes e
consagrados autores, só não frequentemente, não é raro constatar isso num Shakespeare,
num Drummond, isso sem falar nos mais contemporâneos, como Arnaldo Antunes e
Leminski.
A vida é séria e engraçada e a poesia, como reflexo e tradução dela,
pode e deve atravessar todos os matizes de tristeza, choro, angústia, ironia,
lirismo, alegria e riso desse largo arco-íris que indica o pote de ouro poético
em seu final.
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