O amor, quando é real e não algo que só nos parece ser, é experiência pessoal e intransferível. Por isso mesmo não cabe em fórmulas, receitas. A experiência de um indivíduo não se aplica a outro. Cada pessoa tem seus próprios conceitos – e por que não, também alguns equívocos – a respeito do amor.
A palavra amor, significante, com frequência ganha mais importância do que ela significa e representa. O que se vê é o abuso da palavra e com isso a banalização tanto do significante quanto do significado. Usa-se a palavra como uma espécie de coringa e panaceia pra quase tudo. A expressão fazer amor virou um sinônimo de ter relações sexuais. Não há nada de condenável em tê-las “sem (ou mesmo com) amor”, mas no ideário vigente para a maioria, parece que tudo tem que pelo menos aparentar amor.
Amor tem licença poética. Ou pelo menos deveria ter, sem ser uma exigência, ser essa entidade opressora. Não é à toa que tantos se assustam com a sua possibilidade, seu advento, seu prenúncio.
O amor não é uma coisa abstrata, perfeita e redentora que teimamos em pensar que é. Muitas frustrações e decepções se devem às nossas idealizações distorcidas. Porque o amor que a gente espera é um constructo nosso, que nos leva a forjar grandes expectativas. É como ir assistir a um filme esperando que ele vá ser a resposta definitiva para os nossos anseios, desejos, sonhos e sair do cinema com a sensação de que aquele bom filme era só propaganda enganosa.
Precisamos estar abertos. Como tudo que é novo, o amor como ele é – e não o que a gente vive antecipadamente na nossa fantasia – nos causa estranhamento, e aquele constructo prévio, em outras palavras, nossos preconceitos a respeito, que só nos levam aos desencontros, deve se transformar numa experiência a quatro mãos, dinâmica, vivenciada não no “pré” e sim no “durante”, com as nuances do aprendizado, da entrega, da aceitação, da interação. Sem receitas nem moldes genéricos.
Ah, morosos...
Tem o amor e o amor
Um que nos faz livres
Outro que é de nós senhor
Um não exige em retorno
O outro nos prende num forno
O amor que a gente cria
é muito mais fantasia
Cão correndo atrás do rabo
O amor não é um raio
que atinge o coração
Amor não provoca desmaio
Debite isso à paixão
Tem o amar o amor de quem nos ama
e o eu te amo em plena cama
O amor ideal
nunca é o amor natural
O amor demora a surgir
e mais ainda a partir
O da razão nos frustra
O visceral se incrusta
Não se afobe
Amor não aceita lobby
Não se apresse
Guarde o coração
O amor acontece
ou não
Assistam no Youtube o vídeo com haicais meus:
http://www.youtube.com/watch?v=PlHeBhsvPl8&feature=youtu.be
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ResponderExcluirSensacional! Parabéns.
ResponderExcluirPercepção aguçada e criativa da visão do amor. Poética e racional do que não se pode ser racional. Esse poeta, Jorge Ricardo, sempre nos surpreende com suas tramas de ideias e palavras.
ResponderExcluirGrato, COLUNI!(hahaha). É bom demais o sentimento de ser entendido, desse círculo autor leitor se completar.
ExcluirMuito obrigado, Fátima! Feliz de vc ter gostado.
ResponderExcluirPerfeito comentário e perfeito poema!
ResponderExcluirO amor que sentimos em sua maioria não é pelo outro e sim pelo que amamos em nós, dedicado a ele...
Seu marco zero somos nós.
Obrigado, Emilce! Sim, esse é um dos trajetos traçados pelo que nomeamos como amor. Não é o único, mas talvez seja o mais frequente.
ExcluirMuito lindo e profundo...esse amor...
ResponderExcluirQue bom que gostou, Fernanda. Grato!
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