Palavra, se a gente lavra, germina, vira verso, vira frase, romance, conto, repente, cordel, discurso, declaração de amor ou indignação, contação de história, relato da memória, letra de canção!
Palavra escrita, falada, cantada. Palavra só gesticulada! E o silêncio entre elas, que as acentua, feito alma que vai ficando nua a cada palavra que se insinua, que compactua, palavra minha, palavra tua, palavra nossa num coro, num choro ou num riso coletivo, coisa de ser vivo e pulsante e que por isso é falante da palavra que é luz na escuridão do inaudito, do não dito ou do grito preso na garganta da emoção que é tanta que entala, até que a palavra vem resgatá-la.
Palavra, diz-se que uma imagem vale por mil delas, mas mesmo uma só palavra, larva singela, pode redimir, ser redemoinho, transformar água em vinho, ser solar, tocar, co-mover, tirar pra dançar.
Palavrador
O lavrador da palavra
com lírica pá lavra
em lava semeia
enlevos, embates
e dança e se encanta
de ver germinar
da incessante lavoura
palavra tanta
regada a lágrima
saliva e suor
o inaudito
o melhor
o mais bonito
que jamais logrou
ou pelo menos
a pulmões plenos
e versos-setas
gritar pepitas
montar tornados
andar em brasas
adormecer exausto
no regaço da amada
E então outra vez
lavrar o solo da imaginação
e da memória
A pena e a pá lavrando
cavando no lado escuro
Passado presente e futuro
O som
A fúria
Quem sabe a luz
e o lusco-fusco do amor
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